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17/12/2011

A liberdade de pensamento faz a força e traz a esperança na mudança

Caros visitantes virtuais,




Uma vez mais a esperança da mudança sopra em favor da Primavera Árabe e das suas corajosas e corajosos heroínas e heróis que tanto têm lutado pela abertura dos seus países aos valores do respeito pelos direitos humanos, nomeadamente a liberdade de pensamento cujas conquistas vão trazendo importantes frutos para a abertura daqueles países e do mundo.


O Parlamento Europeu atribuiu-lhes esta semana o Prémio Sakharov que desde 1998, ano em que foi criado, distingue individualidades e entidades que se distinguem de forma excepcional na luta contra a intolerância, o fanatismo e a opressão.


Este é um prémio que me sensibiliza de modo especial pois considero a liberdade de pensamento, e consequente liberdade de expressão, uma das maiores riquezas do ser humano, da sua capacidade de reflectir, de criticar, de influenciar e de assim contribuir para construir uma sociedade e um mundo mais justo, equilibrado, desenvolvido, rico em pensamento e em cultura, compreensivo, harmonioso, digno e feliz.


É ainda um prémio que me sensibiliza de modo especial pois lutar contra a falta de liberdade de pensamento e de expressão é uma tarefa árdua, muitas vezes solitária e dificilmente compreendida, mesmo por aqueles que partilham a sociedade onde esses direitos são violados porque pelo medo tendem a acomodar-se e mesmo a acreditar que vivem bem sem a liberdade. Um dos maiores dramas de viver sem liberdade de pensamento é que ela, se não estivermos devidamente atentos e lutarmos contra ela, pode conduzir à atrofia do próprio pensamento e, consequentemente ao empobrecimento da riqueza individual, social e cultural do ser humano.







Congratulo-me de modo especial ainda pelo facto de o Prémio Sakharov ser atribuído pelo Parlamento Europeu que é uma das maiores assembleias parlamentares do mundo. Esta instituição comunitária é composta actualmente por 754 deputados, eleitos de 5 em 5 anos por mais de 500 milhões de cidadãos da União Europeia para ser seus representantes neste espaço democrático que integra os vários quadrantes políticos europeus.


O Prémio é entregue sempre por volta do dia 10 de Dezembro de cada ano, data comemorativa da assinatura da Declaração Universal dos Direitos do Homem das Nações Unidas, em 1948. O título do prémio foi escolhido para homenagear o Físico Russo Andrei Sakharov (1921-1989), que pela sua liberdade de pensamento e de expressão em favor do repensar do uso das descobertas científicas em função do futuro da humanidade e por ter criado um Comité de Defesa dos Direitos do Homem e das vítimas políticas pagou o preço da dissidência, mas viu as suas reflexões contribuirem para a paz e respeito pelos direitos humanos, razão pela qual foi Prémio Nobel da Paz em 1975.


O primeiro laureado com o Prémio Sakharov, atribuído em 1988, foi Nelson Mandela, grande defensor dos direitos humanos na África do Sul, sobre o qual escrevi o post que se encontra no link seguinte : http://celiachamica.blogspot.com/2011/07/mandela-fez-ontem-93-anos-parabens.html
O Prémio Sakahrov 2011 decidiu este ano distinguir cinco personalidades que de modo excepcional lutaram pela defesa da liberdade de pensamento, contra a opressão e a favor da dignidade humana nos países onde a mesma carece de ser respeitada de modo especial. São todos eles figuras relevantes que têm alimentado e continuam a alimentar a chamada Primavera Árabe que tanto tem feito pela democratização e pelos direitos humanos no mundo árabe e sobre a qual escrevi o post que se encontra no link seguinte:





Um dos lauredaos com o Prémio Sakharov 2011, e neste caso a título póstumo, foi Mohamed Bouazizi, que se auto-imolou pelo fogo como símbolo de entrega total à causa da liberdade e da denúncia da repressão exercida pelas autoridades do seu país, a Tunísia: Deu início a uma onda de manifestações solidárias da sua causa nobre naquele país e que em breve alastraram a outros países árabes dando origem à chamada "Primavera Árabe", acima referida.


O Parlamento Europeu invocou um minuto de silêncio em homenagem ao laureado.


Com este simples, mas sentido post, associo-me modestamente a essa homenagem que não tenho dúvidas que é universal e histórica.
Outra das premiadas, Razan Zaitouneh, é uma advogada e activista da Síria que não pôde comparecer na entrega do prémio em Estrasburgo porque se encontra perseguida pelas autoridades daquele país em consequência da sua voz activa denunciando violações da liberdade e dos direitos humanos.


Para não colocar em risco a sua segurança, o Parlamento Europeu não divulgou qualquer fotografia desta premiada e, em seu lugar, divulgou simbolicamente a foto que partilhamos acima sobre a luta pela liberdade na Síria para a qual tanto contribuiu e continua a contribuir.


Razan tornou-se presente neste acto solene através de uma carta de agradecimento que enviou para o Parlamento Europeu.



Outro dos laureados que não pôde estar presente também por ser perseguido pelas autoridades do seu país, a Síria, em razão da sua expressão livre e crítica do regime e das suas violações da liberdade e dos direitos humanos foi Ali Ferzat (foto acima).


Este caricaturista político, que se encontra exilado no Kuweit, enviou uma mensagem em video agradecendo ao Parlamento Europeu a distinção que lhe foi concedida.



Outra das laureadas com este prémio foi Asmaa Mahfouz (foto acima), cidadã do Egipto empenhada activamente nas causas da liberdade e direitos do homem no seu país.


Felizmente Asmaa pôde estar presente na entrega desta distinção onde não foram esquecidos todos os que partiram já e que deram um imprescindível contributo em favor da construção da democracia e da liberdade nos países árabes.


Nestes países a protecção dos direitos das mulheres necessita de um enfoque especial dados os frequentes atentados à integridade física e psicológica a que estas são frequentemente sujeitas, por razões culturais e em razão de princípios religiosos violadores da sua dignidade. E, mesmo constituindo atentado ao seu direito à vida, nomeadamente através das leis sobre o adultério que condenam as mulheres à morte por apedrejamento, o que constitui uma profunda violação de direitos fundamentais e inalienáveis que o mundo deve empenhadamente combater.



Outro dos premiados, que felizmente pôde estar presente na entrega deste prémio, foi Ahmed El Senussi (foto acima) que na Líbia tem lutado pela liberdade e combatido a violação dos direitos humanos dos seus concidadãos.


Este homem, que exerce a sua liberdade de pensamento e de expressão apesar dos riscos que corre continuamente ao fazê-lo, não deixa ainda assim de no seu discurso de agradecimento deste prémio de invocar a necessidade de "RECONCILIAÇÃO", como chave fundamental da construção da paz.


O facto de apenas dois dos cinco distinguidos com o Prémio Sakharov 2011 terem podido estar em Estrasburgo para receber esta distinção representa bem o arrojo destes lutadores da liberdade e dos direitos humanos e a importância que a sua causa tem para a democracia, a dignidade da vida humana e a paz nos Países Árabes e, consequentemente, no mundo.


Estou agradecida à sua entrega generosa e corajosa, associo-me à justa homenagem que o Parlamento Europeu lhes fez e convido-vos também a fazê-lo.


Somos livres graças a gente como eles. Honremos a sua luta, preservemos a nossa liberdade e lutemos pelos nossos direitos e pelos dos nossos concidadãos de país e do mundo. Não esqueçamos que a liberdade e os direitos humanos requerem uma luta permanente que nós, os nossos filhos, netos e gerações futuras merecem que façamos. Em conjunto.





Tornemos cada vez mais reais as palavras de esperança proferidas por Hauwa Ibrahin (foto acima), advogada Nigeriana que tanto tem lutado para defender as liberdades e os direitos humanos, sobretudo das mulheres que são quem mais tem carecido dessa defesa.


Esta laureada com o Prémio Sakahrov em 2005 disse recentemente acreditar estarmos a construir uma nova ordem mundial caracterizada pela identificação do espaço como um direito de todos e a ser partilhado de forma justa e a uma consciência cada vez maior do valor fundamental da liberdade.
Deixo-vos com estas palavras de esperança e com as sábias e também encorajadoras palavras de Jenzy Buzek, actual Presidente do Parlamento Europeu, ao entregar este ano o Prémio Sakharov: "Estes eventos históricos relembram as nossas responsabilidades, incluindo a necessidade de apoiar uma sociedade civil emergente, jovem e vibrante."
Um abraço livre e solidário, caros visitantes virtuais,


C.C.

3 comentários:

  1. Maria do Rosário Luís12/17/2011

    Gostei, Célia!

    Fez-me relembrar os meus tempos de liceu em que era uma defensora acérrima da liberdade de pensamento e Andrei Sakharov era precisamente um dos meus heróis ... Nunca me vou esquecer das discussões acaloradas com o professor de Introdução à Política! Este professor, em 1978, pintava com cores belas e atraentes o bloco soviético e eu ripostava com os dissidentes! Cheguei mesmo a levar para a aula excertos do "Arquipélago de Gulag" de Alexander Soljenítsin... Velhos tempos!

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  2. isabel farmhouse12/17/2011

    Existem poucas coisas mais belas do que ver um povo a levantar-se e a lutar pela liberdade, pagando muitas vezes com a sua vida a sua determinação .Espero que o povo arabe consiga o que tanto anseia e que não se esqueça daqueles que pelo valor supremo da democracia,se ergueram e morreram como aquele pobre vendedor agora laureado com o prémio Sakharov!

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  3. Caras Maria do Rosário e Isabel,

    Muito obrigada pela partilha das vossas tão interessantes reflexões e experiências. Enriquecem o debate sobre esta tão importante matéria.
    Um beijinho a ambas

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