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30/08/2017

O sentido da vida é muito simples, é o Amor. A Esperança encontra-se facilmente, no Amor.


 
(Foto de Bruno Lai no surf, Cabo Verde, Agosto de 2017)
 
Caro(a) visitante virtual,
 
O meu post de hoje é inteiramente dedicado a um leitor deste blogue "Sopros de Esperança" desde o seu primeiro post quando o criei em 2011, mas sobretudo a um grande e muito querido amigo Bruno Lee Lai. É a ele que dedico este post sobre o sentido da vida e a fonte da esperança, ambos com a mesma resposta: o Amor.
 
Nesta foto recente do Bruno ele estava num contexto paradisíaco em Cabo Verde, com a mulher e a filha, os grandes amores da vida dele, para além do seu irmão-gémeo e família que adora, a fazer surf, a sua grande paixão, quando teve uma paragem cardiorrespiratória que o deixou em coma profundo. Foi evacuado para Tenerife onde teve que aguardar condição de saúde que na sua fronteira entre a vida e a morte permitisse que viesse num avião-ambulância para Portugal, ainda inconsciente, mas já sem risco cardíaco na deslocação. Foi a força do Amor que deu à Carla toda a coragem, determinação e esperança para ajudar como dito nas palavras dela no facebook  "o grande amor da minha vida" para o manter agarrado à vida. Agora o Bruno vai estando intermitentemente entre consciência e ausência, cada vez mais consciente e reativo a todos os muitos que gostam muito dele e, visitando-o, lhe transmitem a força das suas emoções e energias positivas, bem como fé quando a têm.
 
Muito tenho pensado sobre o sentido da vida por circunstâncias recentes da minha vida que, não sendo as que desejaria nem fáceis, nada têm de comparável a esta situação extrema que o meu querido amigo Bruno e sua família estão a viver. E, nas muitas reflexões que fiz sobre o assunto, apoiada em muitas leituras estimulantes de que falarei mais oportunamente, baseada ainda numas extraordinárias férias de encontro comigo própria e com os outros, como não tinha há muito tempo e que merecem também que lhes dedique um post bem como à minha amiga que mas proporcionou, cheguei à resposta simples que também esta situação-limite do Bruno veio confirmar. O sentido da vida é o Amor.
 
 
Li recentemente um livro muito interessante de Jorge Bucay e Sílvia Salinas, "Viver sem ti" que fala de um divórcio, da superação da perda de uma vida de casal e da procura de amor autêntico. Senti-me muito identificada porque também eu vivi por dentro a desilusão e a dolorosa decisão de se pôr termo a um casamento, e projeto de família, precisamente no ano em que completaria 25 anos de casamento e numa fase da vida, depois dos cinquenta anos, em que sentimos tudo menos que a vida está aberta a desenrolar-se em oportunidades de realização pessoal. E aprendi muito com este livro, muito sobre o Amor, sobre mim, sobre os outros e sobre a vida. Concordo inteiramente com a perspetiva dos autores que colocam no centro da obra o Amor e a existência ou ausência dele bem como a enorme pertinência do Amor nas nossas vidas. A começar pelo amor por nós próprios, sem o qual nunca conseguiremos ser bem sucedidos em amar seja quem for nem construir relações saudáveis, as únicas que nos proporcionam bem-estar e felicidade e aos outros.
 
É justamente o Amor o sentido da vida e também a fonte da esperança. Não apenas para mim, mas, na minha modesta perspetiva, para qualquer ser humano. Foi sempre o Amor ao longo da minha vida que me ancorou nos momentos difíceis que todos temos, uns mais violentos que outros, mas também que deu sentido às minhas alegrias, pequenas ou grandes.
 
Para começar, claramente o Amor dos meus pais e da minha irmã, e esse Amor destas três pessoas fundamentais na minha vida prevalece constante e forte em todos os momentos da minha vida, mesmo por parte da minha mãe há mais de duas décadas presente apenas nas minhas memórias, nas da família e espiritualmente. Depois o Amor de outras pessoas que foram surgindo na minha vida, em relações românticas, conjugal ou de amizade. Os meus dois filhos nasceram, e desde o nascimento de cada um, juntaram-se ao pilar inabalável da minha família nuclear que será sempre o meu porto de abrigo e o meu porto de alegria e de esperança. O meu Amor por essas pessoas é incondicional e sei que o Amor delas por mim é também incondicional, e este é o sentido da vida e a esperança que tenho. Qualquer que seja o ser humano, se for amado incondicionalmente, nem que seja só por outro ser humano, compreenderá, se o quiser ver, que é esse o sentido da sua vida, é essa a fonte da sua esperança. Eu acredito ainda no sentido da vida e na esperança que resultam do Amor de um Poder Superior a que aprendi a chamar Deus, mas ainda que não acreditasse e não tivesse Fé, é tão grande a força do Amor de quem me ama e que eu amo que só por eles tudo vale a pena.
 
Fazem ainda parte desta dimensão de Amor que dá sentido à minha vida e, creio que à vida de quem quiser estar aberto para assim sentir, as pessoas com quem já me cruzei e com quem me vou cruzando ou  me virei a cruzar na minha vida. Acredito firmemente que nenhuma das pessoas com quem nos cruzamos nas nossas vidas, seja em que plano for (familiar, afetivo, profissional, social, cultural, desportivo ou lúdico), surge por acaso nas nossas vidas, com cada um e em cada momento temos algo que aprender. E, se a mesma pessoa surge mais do que uma vez na nossa vida em momentos diferentes, acredito que é porque não tínhamos ainda percebido, ou não quisemos perceber, o que tínhamos a aprender com ela e ela voltará a aparecer nas nossas vidas em diferentes momentos até que compreendamos o que temos a aprender com ela ou permanecerá na nossa vida se for alguém com quem vamos dia a dia tendo algo a aprender. Não falo em aprendizagens sociais ou culturais, falo em aprendizagens do ser, aprendizagem de sermos mais nós próprios, mais autênticos, mais aceites por nós próprios, mais conscientes dos nossos medos e limitações e mais decididos a superá-los progressivamente ou a aceitá-los se são limitações que não conseguimos vencer. Assim, consequentemente, seremos mais felizes e faremos os outros mais felizes. Nenhum ser humano é feliz sozinho. O ser humano é um ser social por natureza e o universo está cheio de seres humanos maravilhosos com quem nos relacionarmos, de forma saudável e agradável, estimulando o crescimento recíproco uns dos outros, apoiando-nos nas quedas e frustrações e alegrando-se connosco nas alegrias e sucessos, ajudando-nos a compreender os nossos medos e ansiedades e a superá-los. A história nacional e universal está cheia de homens e mulheres carismáticos que viveram as suas vidas inspirando-nos no seu amor solidário aos outros, mesmo que aos outros seus desconhecidos, desde figuras religiosas e espirituais como Buda, Jesus Cristo, Maomé, S. Francisco, Madre Teresa de Calcutá, Papa Francisco, Dalai Lama (entre muitos outros líderes religiosos de mensagens de apelo à paz, ao respeito dos direitos humanos e a uma irmandade universal) a figuras políticas como Gandhi e Martin Luther King, a figuras da vida cívica, cultural e social de todos os tempos, épocas e lugares dos cinco continentes.
 
Claro que nesta dimensão de Amor global como o concebo e no qual considero que reside o sentido da vida e a esperança do ser humano, seremos tanto mais felizes quanto mais amarmos e mais nos sentirmos amados. Claro também, que mais magoaremos e mais seremos magoados por quem amamos, pois uma desilusão que provoquemos ou que sintamos causa sofrimento muito superior se vier de quem mais amamos porque essa pessoa é muito mais importante para nós e perdê-la ou o medo de a perder é superior. Mas magoar ou desiludir alguém é uma dimensão inevitável decorrente das humanas limitações que todos temos, baseadas sobretudo nas nossas experiências passadas da infância e não só, nos nossos medos enraizados, nas nossas ansiedades quando desmedidas e nas nossas expetativas infundadas.

Acredito firmemente que quanto mais formos capazes de trabalhar essas limitações, de nos consciencializarmos delas e de trabalhar para mudar o que entendermos que precisamos de mudar em nós mesmos e nos aceitarmos com o que não conseguimos mudar, pelo menos no momento em que estamos, mais livres nos sentimos, mais autênticos nos sentimos, mais disponíveis ficamos para nos aceitar e para aceitar os outros como são, mais disponíveis estamos para amar e para ser amados e, consequentemente, mais felizes seremos e mais faremos felizes os que nos  riodeiam e com quem interagimos em todos os planos das nossas vidas a título permanente ou meramente ocasional.

Com o trabalho de reflexão, leitura e meditação que tenho feito no último ano da minha vida sinto-me feliz, realizada e grata com o que sou, com o Amor que dou e que recebo em cada dia. Já não sinto vazios existenciais que me angustiavam e deprimiam, já não sinto que falta algo na minha vida que nem sabia o que era. Agora sei. Falava eu própria encontra-me, aceitar-me e amar-me porque Amar um poder superior e amar os outros eu aprendi muito cedo com os meus pais e por isso estou-lhes infinitamente grata, faltava-me a outra parte. Mas, tenho consciência que esta aprendizagem não acaba aqui. Considero que a aprendizagem do amor é uma aprendizagem constante e diária ao longo das nossas vidas e que, quanto mais estivermos abertos a ela mais realizados e felizes nos sentiremos e mais amor, alegria e esperança deixaremos como rasto no nosso caminho da vida.
 
(Foto de Bruno Lai, Cabo Verde, Agosto de 2017)
 
E, é neste meu percurso de vida, aprendendo em cada dia a caminhar ao lado dos outros e não à frente nem atrás, que recebi os fabulosos abraços do meu querido amigo Bruno. Dados numa cama de hospital, entre estados de inconsciência e de consciência, como o vi no domingo passado. Sem me conhecer a princípio, parecendo reconhecer o meu nome quando o proferi e, depois, numa explosão de abraços e risos sem som mas os olhos, os lábios e a cara toda iluminada quando, algum tempo depois de ouvir a minha voz e a sonoridade e cadência com que me identificou, me reconheceu. Foi enorme a alegria de ambos naquele inesperado encontro. Tocámo-nos muito em abraços, afagos de mãos e, da minha parte, carícias na face e nos cabelos dele, nunca o tínhamos feito porque nunca tinha sido necessário para mutuamente comunicarmos a forte amizade que nos unia. Não tenho palavras para descrever a emoção dessa comunicação intensa de afeto genuíno, puro e forte que muito nos une. Eu sabia bem o quanto ele era uma pessoa de quem eu gostava muito, sabia bem que era um amigo muito querido para mim e ele também sabia porque ao longo dos nossos anos de amizade essa amizade sempre foi muito saudável nos afetos, sem competições, orgulhos, invejas, ambições ou rivalidades a envenena-la por mais complexos e até agressivos que tenham sido os percursos profissionais que partilhámos como colegas. Nem da parte do Bruno nem da minha houve momento algum, fosse de tensão ou de descontração, de satisfação ou de frustração, em que deixássemos de nos respeitar em que deixássemos de nos valorizar mutuamente em que transferíssemos para o outro ciúmes, raivas ou desconfianças.
 
Considero que quando as relações são saudáveis as pessoas desenvolvem entre si afetos profundos em que cada um se sente confortável e seguro para ir partilhando com o outro aquilo que é. Assim, os abraços do Bruno para mim têm um valor imenso, intenso e profundo porque me foram dados por ele apenas por ele ser quem é e eu ser quem sou e ambos sermos verdadeiramente amigos. Também estou, como desde cedo  estive, convicta de que estas nossas expressões de afeto só tiveram o valor que têm porque ao longo da nossa amizade ambos transmitimos um ao outro, e ambos entendemos bem o quanto somos importantes e valorizados pelo outro. Não precisei deste momento nem o Bruno para saber o valor dele, a importância dele para mim e o quanto gosto dele. Nem ele precisou disso em relação a mim. E, justamente porque essa era uma comunicação já existente e bem compreendida por ambas as partes esteve presente nesses abraços. Cada um daqueles abraços que trocámos transportava a história dos nossos afetos e ambos nos reconhecemos nessa história e em conjunto, naquele momento tão especial para ambos, nos alegrámos com ela, uma vez mais, como em tantos dos nossos almoços e cafés partilhados, entre risos e por vezes lágrimas, entre êxitos e por vezes fracassos, entre alegria e por vezes tristeza, mas sempre, sempre sem exceção em nenhum momento, mérito dos dois, porque numa relação o mérito é igualmente partilhado, sempre com autenticidade, grande admiração, grande reconhecimento e, por tudo isso, grande afeto pelo outro e interesse na sua felicidade e alegria em todos os planos da vida.

Ao longo da minha amizade  com o Bruno ele tem-me transmitido os seus afetos pelas pessoas que lhe são mais queridas, a mulher, a filha, os pais, os irmãos e a paixão do surf e esses afetos dele, como os meus que partilhei com ele, passaram a fazer com que também essas pessoas passassem a fazer parte do património afetivo de ambos e, por isso, mesmo antes de os conhecer, eles já eram meus conhecidos e já me diziam muito.
 
O Bruno, como referi no início deste post, é leitor deste blogue "Sopros de Esperança" desde o seu primeiro post quando foi criado em 2011. E um leitor regular que comenta sempre cada um dos meus posts em mensagem privada para mim de uma forma giríssima, destacando sempre em cada post a frase que lhe diz mais. Muitas vezes achei que essa frase era uma frase banal que nada tinha de especial, simplesmente tinha-me "saído" enquanto escrevia. Era ele que a tornava especial com o valor que tinha decidido conferir-lhe.
 
Este blogue tem já mais de 56.000 visitas das várias partes do mundo e eu, neste momento, e em sinal da minha profunda amizade e gratidão ao meu muito querido amigo Bruno, dedico-lhe essas mais de 56.000 visitas vindas de visitantes virtuais portugueses e estrangeiros porque sem o seu encorajamento contínuo e o de outros amigos e visitantes virtuais eu não teria persistido neste projeto de escrever palavras de esperança que pudessem chegar a cada um de vós e também a mim própria.
 
O Bruno não lerá hoje este post diretamente no blogue, mas irei ler-lho eu, seja qual o nível de consciência em que o for encontrar hoje e com a força de tanto Amor da mulher, da filha, do irmão-gémeo, dos irmãos, cunhados, sobrinhos, amigos do surf, amigos e colegas de trabalho e, também e sobretudo, acredito, o Amor de Deus, o Bruno continuará a estar connosco e a recuperar tudo o que é de expressão do maravilhoso ser humano que é e sempre será e com quem tive o imenso privilégio de um dia, há vários anos, me cruzar na vida.
 
Caro visitante virtual, espero que este post lhe tenha dito algo sobre o sentido da vida, a esperança e as relações saudáveis que têm sempre por base o Amor no sentido global do termo. Eu aprendi que já só quero relações dessas na minha vida, seja em que plano for. E aprendi também que todas as relações são a dois porque mesmo entre família, amigas ou colegas a relação que se estabelece entre cada um de nós e o outro é única e a responsabilidade de que seja uma relação saudável e feliz é claro como água, é de metade para cada um, nem mais, nem menos (obviamente excluindo as situações de relações de opressão de um ser humano sobre o outro, violadoras dos direitos humanos em que um é vítima do outro e deve procurar ajuda das entidades competentes para ser ajudado a sair dessa relação). Eu assumo a minha responsabilidade pelos 50% de todas as relações que tive na minha vida e quero aprender em cada dia a continuar a estar consciente dessa responsabilidade, assumi-la e usá-la da forma que me fizer mais feliz e àqueles com quem a partilho, se quiserem, claro está.

Porque somos livres e adultos e devemos querer a partilhar das nossas vidas simplesmente quem nos faz sentir estimados e valorizados, quem aceita o nosso afeto como algo autêntico, único e precioso, porque o é verdadeiramente. É assim que reconheço quem quero em cada dia que partilhe a minha vida, esteja em minha casa, na vizinhança, no trabalho, no meu país ou no estrangeiro, perto ou longe, porque os afetos que são fortes permanecerão fortes se cultivados e sempre atuais, mesmo que a presença física nem sempre seja possível.
 
Boas viagens interiores e relacionais, caro visitante virtual, e dê aquele abraço com alma a quem entender que o merece porque reconhece o seu afeto e o valoriza e nutre por si afeto e lho comunica numa linguagem que ambos possam entender. Verá que nem que seja só uma pessoa a estar consigo nessa relação plena, a sua vida estará preenchida, com genuinidade, plenitude e esperança.
 
Até ao meu próximo post.
 
C.C.
 
 

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