Apreciei de modo especial a frase escolhida por Guimarães sobre a matéria: " O património somos todos nós". É bom que tenhamos presente esta grande verdade e nos valorizemos a cada passo, constituindo essa valorização um estímulo diário para a criatividade e inovação cujo potencial possuimos e que se vai revelando em tantos traços da cultura portuguesa seja ela erudita ou popular.
Não pretendendo repetir ideias, quero apenas aqui assinalar que a Croácia, se tiver decidido a favor da sua adesão a este projecto europeu, será muito bem-vinda pois será mais um enriquecimento histórico e cultural a acrescer ao precioso património cultural da União Europeia.
Não queria encerrar este post sobre cultura e esperança sem vos falar de um grande homem que marcou a cultura portuguesa e me marcou também a mim, que modestamente me incluo entre os seus leitores que se sentiram profundamente tocados pela sua mensagem literária e social: Alves Redol, cujo centenário do nascimento foi celebrado durante 2011, encerrando com a conferência internacional realizada na semana passada em Lisboa.
Contactei com a literatura de Alves Redol enquanto aluna do ensino básico. O que uma vez mais me faz evocar a enorme importância da educação e o seu elo profundo com a atracção das nossas crianças e jovens para a cultura portuguesa e mundial.
O primeiro livro que li de Alves Redol foi "Constantino guardador de vacas e de sonhos", escrito pelo autor em 1962. Este livro, escrito dois anos antes do meu nascimento, marcou-me profundamente porque fala com uma sensibilidade extraordinária sobre um rapaz que sonhava alcançar Lisboa através do rio. Falava de dores e de sonhos e eu nunca mais esqueci Constantino que passou a pertencer ao meu património pessoal. Ainda hoje recordo a expressão do pai, assente na tradição duramente machista do tempo: "meu filho, um homem não chora nem que veja as tripas do outro na mão".
Reencontrei a literatura de Alves Redol há alguns anos quando li "O Muro Branco" que publicou em 1966. Deslumbrei-me uma vez mais e ainda mais. A extraordinária sensibilidade humana que transparece em cada linha é comovente e arrebatadora. Considero este livro uma pérola imperdível da literatura portuguesa.
Alves Redol nasceu em Vila Franca de Xira e esta Câmara Municipal está de parabéns porque o tem sabido homenagear. Criou um concurso literário com o nome do escritor, o que constitui um importantíssimo incentivo a novos autores ou a autores que não sendo novos não encontram forma de ver acolhidas as suas obras para publicação, o que sabemos é muito difícil que suceda. E, em 2011 dedicou todo o ano do centenário de nascimento de Alves Redol a actividades diversas de evocação deste grande escritor português que lutou contra o fascismo, foi preso pela PIDE (Polícia política da ditadura de Salazar) duas vezes, uma em 1944 e outra em 1963, viu os seus livros serem censurados, mas nunca desistiu de escrever a realidade de um país pobre e oprimido que tinha que se libertar. Escreveu romances, contos, teatro, literatura infantil, estudos e conferências. E sobre si próprio, numa entrevista dada em 27 de Março de 1963 ao jornal "Republical" disse: "Vocês, os mais novos, vão encontrar coisas belas para fazer... nessa altura, se o merecer, lembrem-se de mim".
Como poderia eu e tantos outros que o leram e lêem esquecê-lo? Esquecer este homem corajoso e esperançoso cuja poderosa arma foi a literatura? Nunca.
Caros visitantes virtuais, convido-vos a visitar a nossa cultura, em Guimarães ou qualquer outro ponto do país e do mundo onde Portugueses traçam rastos da magia de Ser Português.
Convido-vos a conhecer Alves Redol, convido-vos a conhecer escritores, pintores, cineastas, compositores, arquitectos, actores, encenadores, cantores, escultores, todo o tipo de artistas da cultura portuguesa, bem como tradições culturais de um povo que nunca deixou de exprimir o que lhe vai na alma, nessa grande e quente alma lusa que somos todos nós.
Um abraço caro visitante virtual e uma boa semana,
C.C.
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