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22/01/2012

A cultura como fonte de esperança

Caros visitantes virtuais,

Na semana em que Guimarães abriu as suas portas ao mundo como capital europeia da cultura 2012 (foto acima), papel que partilha com Maribor (foto abaixo), cidade da Eslovénia, ambas escolhidas pelo Conselho de Ministros da União Europeia para serem as capitais europeias da cultura em 2012.

Apreciei de modo especial a frase escolhida por Guimarães sobre a matéria: " O património somos todos nós". É bom que tenhamos presente esta grande verdade e nos valorizemos a cada passo, constituindo essa valorização um estímulo diário para a criatividade e inovação cujo potencial possuimos e que se vai revelando em tantos traços da cultura portuguesa seja ela erudita ou popular.

A cultura, para além de valorizadora do país e do mundo, é também valorizadora de cada comunidade onde se insere, tornando-se assim um factor de desenvolvimento regional, mas é ainda valorizadora do próprio ser humano.

A cultura, na minha perspectiva é um alimento imprescindível que constitui uma forma de nos entregarmos aos outros e também uma forma de absorvermos em nós as dádivas de sensibilidade dos outros.

Apreciar o que é feito pelo outro é também fonte de compreensão e de diálogo intersocial e intercultural.

A cultura liberta-nos dos sentimentos que nos oprimem quando os partilhamos através da escrita, da encenação, da pintura, da escultura, da música, do cinema e de tantas formas de arte performativa. Partilhados esses sentimentos passam a pertencer também a quem nos vê ou nos escuta e a luta contra essa dor é assim mais forte e mais capaz de ser superada e de transformar o mundo para o melhorar. A cultura por esta via constitui também uma terapia contra a angústia e a tristeza, uma fonte de alegria e uma fonte de esperança.

Por esta razão, sejam quais forem os tempos que se vivem, um povo não pode nunca deixar de desenvolver e promover a sua cultura.

Os Governantes não podem esquecer que a cultura de um povo é a sua mais preciosa fonte de riqueza porque representa a sua essência. Compete-nos também a nós, cidadãos atentos, ir lembrando a quem está no poder que a gestão financeira não pode deixar de ser feita para o povo português e em função dele. A "troika" não tem essa sensibilidade porque não está enraízada em valores humanos e culturais, é uma entidade abstracta que visa contribuir para apoiar uma gestão equilibrada, o que não se deve menosprezar, mas também não nos podemos deixar submergir no que é apenas uma vertente da realidade de um país, ainda que estruturante.

Valores fundamentais como a educação, a cultura, a saúde, a justiça e a segurança de um povo têm que estar garantidos e ser promovidos, pois não pretendemos apenas sobreviver a uma crise económica, mas é nossa obrigação democrática manter e até mesmo elevar quando necessário a dignidade humana e social de todos e não apenas de camadas mais favorecidas.

Os cidadãos da Croácia estão hoje a realizar um referendo para decidir a sua entrada na União Europeia. Já escrevi sobre esse assunto e o meu post encontra-se em: http://celiachamica.blogspot.com/2011/12/vale-pena-crescer-em-conjunto.html
Não pretendendo repetir ideias, quero apenas aqui assinalar que a Croácia, se tiver decidido a favor da sua adesão a este projecto europeu, será muito bem-vinda pois será mais um enriquecimento histórico e cultural a acrescer ao precioso património cultural da União Europeia.
Não queria encerrar este post sobre cultura e esperança sem vos falar de um grande homem que marcou a cultura portuguesa e me marcou também a mim, que modestamente me incluo entre os seus leitores que se sentiram profundamente tocados pela sua mensagem literária e social: Alves Redol, cujo centenário do nascimento foi celebrado durante 2011, encerrando com a conferência internacional realizada na semana passada em Lisboa.


Contactei com a literatura de Alves Redol enquanto aluna do ensino básico. O que uma vez mais me faz evocar a enorme importância da educação e o seu elo profundo com a atracção das nossas crianças e jovens para a cultura portuguesa e mundial.
O primeiro livro que li de Alves Redol foi "Constantino guardador de vacas e de sonhos", escrito pelo autor em 1962. Este livro, escrito dois anos antes do meu nascimento, marcou-me profundamente porque fala com uma sensibilidade extraordinária sobre um rapaz que sonhava alcançar Lisboa através do rio. Falava de dores e de sonhos e eu nunca mais esqueci Constantino que passou a pertencer ao meu património pessoal. Ainda hoje recordo a expressão do pai, assente na tradição duramente machista do tempo: "meu filho, um homem não chora nem que veja as tripas do outro na mão".


Reencontrei a literatura de Alves Redol há alguns anos quando li "O Muro Branco" que publicou em 1966. Deslumbrei-me uma vez mais e ainda mais. A extraordinária sensibilidade humana que transparece em cada linha é comovente e arrebatadora. Considero este livro uma pérola imperdível da literatura portuguesa.
Alves Redol nasceu em Vila Franca de Xira e esta Câmara Municipal está de parabéns porque o tem sabido homenagear. Criou um concurso literário com o nome do escritor, o que constitui um importantíssimo incentivo a novos autores ou a autores que não sendo novos não encontram forma de ver acolhidas as suas obras para publicação, o que sabemos é muito difícil que suceda. E, em 2011 dedicou todo o ano do centenário de nascimento de Alves Redol a actividades diversas de evocação deste grande escritor português que lutou contra o fascismo, foi preso pela PIDE (Polícia política da ditadura de Salazar) duas vezes, uma em 1944 e outra em 1963, viu os seus livros serem censurados, mas nunca desistiu de escrever a realidade de um país pobre e oprimido que tinha que se libertar. Escreveu romances, contos, teatro, literatura infantil, estudos e conferências. E sobre si próprio, numa entrevista dada em 27 de Março de 1963 ao jornal "Republical" disse: "Vocês, os mais novos, vão encontrar coisas belas para fazer... nessa altura, se o merecer, lembrem-se de mim".
Como poderia eu e tantos outros que o leram e lêem esquecê-lo? Esquecer este homem corajoso e esperançoso cuja poderosa arma foi a literatura? Nunca.
Caros visitantes virtuais, convido-vos a visitar a nossa cultura, em Guimarães ou qualquer outro ponto do país e do mundo onde Portugueses traçam rastos da magia de Ser Português.
Convido-vos a conhecer Alves Redol, convido-vos a conhecer escritores, pintores, cineastas, compositores, arquitectos, actores, encenadores, cantores, escultores, todo o tipo de artistas da cultura portuguesa, bem como tradições culturais de um povo que nunca deixou de exprimir o que lhe vai na alma, nessa grande e quente alma lusa que somos todos nós.
Um abraço caro visitante virtual e uma boa semana,


C.C.

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