Caros visitantes virtuais,
Este é o meu primeiro post escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico e explico porquê.
Devo confessar que me custou a aderir à ideia do Acordo Ortográfico que tanto empenho requereu às Academias de Letras e de Ciências dos Países de Língua Oficial Portuguesa.
Embora já tenham corrido rios de tinta sobre o assunto, poderá ser útil lembrar que este Acordo procurou acordar uma forma de escrita (grafia) comum entre os Países que partilham este valiosíssimo património: Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Estes países, irmãos na Língua, e partilhando também fortes laços culturais, há mais de quinze anos aceitaram constituir a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para assumir internacionalmente esses laços, reforçar e aprofundar a cooperação entre os seus povos e respetivos governos. A foto acima data de 1996, ano de constituição da CPLP, por isso não inclui ainda o Chefe de Estado de Timor-Leste, país que se juntou à CPLP após a sua independência, tão justa e celebrada.
Destes países apenas Angola e Moçambique ainda não ratificaram o Acordo Ortográfico e Portugal fê-lo em 2008. No nosso país o Acordo entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 2009, estando até 2015 a decorrer o período de transição em que são aceites as duas grafias: antes e pós-Acordo. Em contexto escolar iniciou-se no presente ano letivo a sua aplicação. Também o Diário da República e a Administração Pública Portuguesa estão já a adaptar a sua grafia ao Acordo Ortográfico.
Como todos sabemos, o Acordo Ortográfico tem desencadeado reações populacionais apaixonadas, contra ou a favor da sua aplicação. Eu nunca assumi posição em nenhum dos lados, mas resisti quanto pude à sua aplicação. Um misto de comodismo e de sentimentalismo prenderam-me à grafia conhecida e usada desde que há mais de quarenta anos li e escrevi as primeiras palavras na minha língua materna de que tanto me orgulho: o Português.
A verdade é que, embora afetivamente me custe e me dê trabalho aprender a nova grafia do Português, várias razões que considero de peso me levaram a lidar com o sentimentalismo, afastar o comodismo e decidir aplicar o Acordo Ortográfico. E são estas as razões pelas quais, caros visitantes virtuais, estou a escrever-vos este post já em nova grafia:
- Respeito os compromissos internacionais assumidos pelos legítimos representantes do Estado português, sejam eles quem forem, pois foram democraticamente eleitos pelo povo português e pelo mesmo mandatados para as suas funções presidenciais e/ou governativas;
- A Língua Portuguesa não é só de Portugal, é um património linguístico partilhado por uma comunidade populacional em descontinuidade geográfica pelos vários continentes, povos dos Países da CPLP e cidadãos de espaços que foram ou são hoje ainda habitados por portugueses, e que num abraço de Língua falada em comum fazem do Português a quarta língua mais falada do mundo (cerca de 240 milhões de falantes). Quanto mais unidos, mais fortes seremos na divulgação e utilização do Português na comunidade internacional;
- Embora Portugal se tenha tornado independente no século XII, apenas no século XX estabeleceu pela primeira vez um modelo ortográfico de referência para publicações oficiais e para o ensino. Quer isto dizer que antes disso não tínhamos Língua Portuguesa ou que deixaremos de a ter com as adaptações que o Acordo Ortográfico veio requerer? Naturalmente que não;
- A Língua Portuguesa, com ou sem Acordo, é um fenómeno dinâmico e essa é uma das suas fontes de riqueza, não apenas linguística como cultural. Basta lermos os grandes escritores Gil Vicente, Fernão Mendes Pinto, Camões, Eça, Pessoa e Saramago, fortíssimos referenciais nacionais e internacionais da Língua Portuguesa para vermos que ela pode ser escrita e lida de modo diferente sem que isso de modo algum a descaracterize, bem pelo contrário, a tem enriquecido ao longo dos séculos. Sem esquecer, naturalmente, os escritores nossos irmãos que com tanto prestígio têm conferido à língua e à literatura escrita em Português que se encontra disseminada universalmente: Jorge Amado, Mia Couto, Pepetela, Ondjaki, José Eduardo Agualusa e tantos outros.
Porquê então resistir ao Acordo Ortográfico se nos pode aproximar na forma de escrever aos povos nossos irmãos de Língua. Porque temos que fazer cedências? E então? Não fizeram também estes países cedências ao aceitar-nos lado a lado quando no passado assumimos o papel de dominadores?
Pessoalmente, considero que a soberania da Língua Portuguesa no mundo tem a ganhar com esta sintonia de grafia que em nada empobrece as diferentes formas culturais e até individuais de cada um expressar ideias e sentimentos. Como em qualquer relação de Amor ou paixão, ama-se porque se ama, não se pesa quem faz mais cedências, porque o estar com o outro é nos torna mais autênticos, mais equilibrados, mais preenchidos e mais felizes. E para mim, a Língua é apaixonante e considero que todos os que a falamos e escrevemos ficamos mais ricos na relação e na partilha uns com os outros.
Sei que não é um tema consensual, por isso vos deixo aqui um conjunto de pistas muito interessantes que vos convido a visitar e onde vos convido a participar neste intenso debate que nos ajuda a crescer como povos falantes de Português.
Desde logo, neste blogue sintam-se à vontade para deixar os vossos comentários que muito apreciarei, mesmo que discordantes das ideias que expressei.
Há um interessante Fórum de debate sobre os desafios que atualmente e no futuro se colocam à Língua Portuguesa, aberto por iniciativa de Maria Eduarda Boal que tanto têm contribuído para a nobre causa da nossa Língua e que citando a feliz expressão de Mia Couto “Os novos Adamastores da Língua Portuguesa” abriu este espaço de debate de ideias que será tanto mais rico quanto maior for a participação dos apaixonados desta Língua tão rica na sua diversidade de cores, cheiros, sabores, movimentos, contextos geográficos e culturais, tradições e modernidade e inovação nos contextos tradicionais e nos contemporâneos, mas já projetada também no futuro, porque sempre quis abrir os braços para ir ao encontro do outro, por mais distante que estivesse. Convido-vos a participar no Fórum da Língua Portuguesa deixando a vossa ideia, sugestão, reflexão em: http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/f/questoes-de-lingua
Há ainda o Observatório de Língua Portuguesa (que integra o Fórum acima e que inclui informação sempre atualizada e preciosa sobre a Língua e a Cultura Portuguesas no mundo) em: http://observatorio-lp.sapo.pt/pt
Outra fonte essencial: a página eletrónica da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa:
http://www.cplp.org/
O Instituto Internacional da Língua Portuguesa dos Países da CPLP:
http://www.iilp.org.cv/index.php?option=com_content&view=frontpage&Itemid=1
O Museu da Língua Portuguesa:
http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/
E, para informações detalhadas sobre o Acordo Ortográfico e dúvidas sobre a Língua Portuguesa recomendo os dois sítios eletrónicos abaixo:
http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php
http://ciberduvidas.pt/
Uma boa semana, caro visitante virtual, e boas leituras e escritas em Português, com ou sem acordo ortográfico, como preferir,
C.C.
Há ainda o Observatório de Língua Portuguesa (que integra o Fórum acima e que inclui informação sempre atualizada e preciosa sobre a Língua e a Cultura Portuguesas no mundo) em: http://observatorio-lp.sapo.pt/pt
Outra fonte essencial: a página eletrónica da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa:
http://www.cplp.org/
O Instituto Internacional da Língua Portuguesa dos Países da CPLP:
http://www.iilp.org.cv/index.php?option=com_content&view=frontpage&Itemid=1
O Museu da Língua Portuguesa:
http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/
E, para informações detalhadas sobre o Acordo Ortográfico e dúvidas sobre a Língua Portuguesa recomendo os dois sítios eletrónicos abaixo:
http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php
http://ciberduvidas.pt/
Uma boa semana, caro visitante virtual, e boas leituras e escritas em Português, com ou sem acordo ortográfico, como preferir,
C.C.
Defensor convicto do AO, não porque concorde com todos os seus pormenores, mas porque não vejo problemas na adaptação, que sempre aconteceu, da escrita à língua falada, saúdo este comentário.
ResponderEliminarO saudosismo empurra-nos para o passado. Mas é no futuro que está a vida. Claro que todo o futuro se constrói sobre a tradição que nos foi legada. Contudo, toda a construção é inovação e criatividade.
Jorge,
EliminarObrigada pelo interessante comentário.
Bjs,