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19/02/2012

O Acordo Ortográfico: Um abraço entre irmãos



Caros visitantes virtuais,
Este é o meu primeiro post escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico e explico porquê.
Devo confessar que me custou a aderir à ideia do Acordo Ortográfico que tanto empenho requereu às Academias de Letras e de Ciências dos Países de Língua Oficial Portuguesa.
Embora já tenham corrido rios de tinta sobre o assunto, poderá ser útil lembrar que este Acordo procurou acordar uma forma de escrita (grafia) comum entre os Países que partilham este valiosíssimo património: Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Estes países, irmãos na Língua, e partilhando também fortes laços culturais, há mais de quinze anos aceitaram constituir a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para assumir internacionalmente esses laços, reforçar e aprofundar a cooperação entre os seus povos e respetivos governos. A foto acima data de 1996, ano de constituição da CPLP, por isso não inclui ainda o Chefe de Estado de Timor-Leste, país que se juntou à CPLP após a sua independência, tão justa e celebrada.
Destes países apenas Angola e Moçambique ainda não ratificaram o Acordo Ortográfico e Portugal fê-lo em 2008. No nosso país o Acordo entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 2009, estando até 2015 a decorrer o período de transição em que são aceites as duas grafias: antes e pós-Acordo. Em contexto escolar iniciou-se no presente ano letivo a sua aplicação. Também o Diário da República e a Administração Pública Portuguesa estão já a adaptar a sua grafia ao Acordo Ortográfico.

Como todos sabemos, o Acordo Ortográfico tem desencadeado reações populacionais apaixonadas, contra ou a favor da sua aplicação. Eu nunca assumi posição em nenhum dos lados, mas resisti quanto pude à sua aplicação. Um misto de comodismo e de sentimentalismo prenderam-me à grafia conhecida e usada desde que há mais de quarenta anos li e escrevi as primeiras palavras na minha língua materna de que tanto me orgulho: o Português.
A verdade é que, embora afetivamente me custe e me dê trabalho aprender a nova grafia do Português, várias razões que considero de peso me levaram a lidar com o sentimentalismo, afastar o comodismo e decidir aplicar o Acordo Ortográfico. E são estas as razões pelas quais, caros visitantes virtuais, estou a escrever-vos este post já em nova grafia:


- Respeito os compromissos internacionais assumidos pelos legítimos representantes do Estado português, sejam eles quem forem, pois foram democraticamente eleitos pelo povo português e pelo mesmo mandatados para as suas funções presidenciais e/ou governativas;
- A Língua Portuguesa não é só de Portugal, é um património linguístico partilhado por uma comunidade populacional em descontinuidade geográfica pelos vários continentes, povos dos Países da CPLP e cidadãos de espaços que foram ou são hoje ainda habitados por portugueses, e que num abraço de Língua falada em comum fazem do Português a quarta língua mais falada do mundo (cerca de 240 milhões de falantes). Quanto mais unidos, mais fortes seremos na divulgação e utilização do Português na comunidade internacional;
- Embora Portugal se tenha tornado independente no século XII, apenas no século XX estabeleceu pela primeira vez um modelo ortográfico de referência para publicações oficiais e para o ensino. Quer isto dizer que antes disso não tínhamos Língua Portuguesa ou que deixaremos de a ter com as adaptações que o Acordo Ortográfico veio requerer? Naturalmente que não;
- A Língua Portuguesa, com ou sem Acordo, é um fenómeno dinâmico e essa é uma das suas fontes de riqueza, não apenas linguística como cultural. Basta lermos os grandes escritores Gil Vicente, Fernão Mendes Pinto, Camões, Eça, Pessoa e Saramago, fortíssimos referenciais nacionais e internacionais da Língua Portuguesa para vermos que ela pode ser escrita e lida de modo diferente sem que isso de modo algum a descaracterize, bem pelo contrário, a tem enriquecido ao longo dos séculos. Sem esquecer, naturalmente, os escritores nossos irmãos que com tanto prestígio têm conferido à língua e à literatura escrita em Português que se encontra disseminada universalmente: Jorge Amado, Mia Couto, Pepetela, Ondjaki, José Eduardo Agualusa e tantos outros.


Porquê então resistir ao Acordo Ortográfico se nos pode aproximar na forma de escrever aos povos nossos irmãos de Língua. Porque temos que fazer cedências? E então? Não fizeram também estes países cedências ao aceitar-nos lado a lado quando no passado assumimos o papel de dominadores?
Pessoalmente, considero que a soberania da Língua Portuguesa no mundo tem a ganhar com esta sintonia de grafia que em nada empobrece as diferentes formas culturais e até individuais de cada um expressar ideias e sentimentos. Como em qualquer relação de Amor ou paixão, ama-se porque se ama, não se pesa quem faz mais cedências, porque o estar com o outro é nos torna mais autênticos, mais equilibrados, mais preenchidos e mais felizes. E para mim, a Língua é apaixonante e considero que todos os que a falamos e escrevemos ficamos mais ricos na relação e na partilha uns com os outros.
Sei que não é um tema consensual, por isso vos deixo aqui um conjunto de pistas muito interessantes que vos convido a visitar e onde vos convido a participar neste intenso debate que nos ajuda a crescer como povos falantes de Português.
Desde logo, neste blogue sintam-se à vontade para deixar os vossos comentários que muito apreciarei, mesmo que discordantes das ideias que expressei.

Há um interessante Fórum de debate sobre os desafios que atualmente e no futuro se colocam à Língua Portuguesa, aberto por iniciativa de Maria Eduarda Boal que tanto têm contribuído para a nobre causa da nossa Língua e que citando a feliz expressão de Mia Couto “Os novos Adamastores da Língua Portuguesa” abriu este espaço de debate de ideias que será tanto mais rico quanto maior for a participação dos apaixonados desta Língua tão rica na sua diversidade de cores, cheiros, sabores, movimentos, contextos geográficos e culturais, tradições e modernidade e inovação nos contextos tradicionais e nos contemporâneos, mas já projetada também no futuro, porque sempre quis abrir os braços para ir ao encontro do outro, por mais distante que estivesse. Convido-vos a participar no Fórum da Língua Portuguesa deixando a vossa ideia, sugestão, reflexão em: http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/f/questoes-de-lingua
Há ainda o Observatório de Língua Portuguesa (que integra o Fórum acima e que inclui informação sempre atualizada e preciosa sobre a Língua e a Cultura Portuguesas no mundo) em: http://observatorio-lp.sapo.pt/pt
Outra fonte essencial: a página eletrónica da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa:
http://www.cplp.org/
O Instituto Internacional da Língua Portuguesa dos Países da CPLP:
http://www.iilp.org.cv/index.php?option=com_content&view=frontpage&Itemid=1
O Museu da Língua Portuguesa:
http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/
E, para informações detalhadas sobre o Acordo Ortográfico e dúvidas sobre a Língua Portuguesa recomendo os dois sítios eletrónicos abaixo:
http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php
http://ciberduvidas.pt/

Uma boa semana, caro visitante virtual, e boas leituras e escritas em Português, com ou sem acordo ortográfico, como preferir,

C.C.

2 comentários:

  1. Defensor convicto do AO, não porque concorde com todos os seus pormenores, mas porque não vejo problemas na adaptação, que sempre aconteceu, da escrita à língua falada, saúdo este comentário.
    O saudosismo empurra-nos para o passado. Mas é no futuro que está a vida. Claro que todo o futuro se constrói sobre a tradição que nos foi legada. Contudo, toda a construção é inovação e criatividade.

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    1. Jorge,
      Obrigada pelo interessante comentário.
      Bjs,

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