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16/10/2011

A secreta esperança



Caros visitantes virtuais,

É a primeira vez que vos falo de um livro. Não porque não goste de ler, bem pelo contrário. Ler é uma das minhas mais antigas e maiores paixões. Desta vez vou falar de um livro, e mais do que de um livro, de um autor e da esperança que traz com ele. Porque este blogue é um blogue de esperança, faz sentido trazê-lo a este post.

Não conheço o autor, mas conheço o que escreve.
Disse no livro cuja capa acima se replica: "A esperança era uma coisa muda e feita para ser um pouco secreta".
A beleza literária da escrita de Valter Hugo Mãe, o extraordinário enredo do livro e a densidade das personagens que nos enternecem e arrebatam fazem deste homem uma das grandes esperanças da literatura portuguesa contemporânea.


Valter Hugo Mãe nasceu em Angola em 1971 e venceu o Prémio José Saramago, na minha perspectiva com toda a justiça, e muitos mais vencerá a avaliar pela qualidade do que escreve.
Considerei este livro um fonte de esperança não apenas pelo promissor papel que atribuo a este escritor no panorama literário nacional e internacional, mas também porque o seu mais recente livro "O filho de mil homens" é, no meu entender, um manual de esperança. Ensina-nos que podemos ter problemas e ser felizes, se aceitarmos as nossas fragilidades e as dos outros e, com amor, as transformarmos em força.

Fala de personagens que carregam o fardo da desigualdade social, que por isso são ostracizados, mas fala também de personangens simples, com uma enorme sabedoria de vida que são capazes de genuinamente acolher, respeitar e amar a diferença. Ensinam-nos grandes lições sobre questões como a deficiência física, a homosexualidade e as diferenças sociais são tratadas e sentidas no dia-a-dia. Lendo é mais fácil tomar consciência das atitudes individuais e sociais que existem face à diferença e, assim, construir mentalidades mais respeitadoras do outro e da sua diferença.






"Um homem chegou aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter um filho."
"Abriu a sua porta e arriscou sorrir."
"Pensava que quando se sonha tão grande a realidade aprende."

Valter Hugo Mãe fala-nos da tristeza de um homem que, chegando à chamada meia-idade, se sente vazio. Mas este homem tem uma enorme capacidade que vai conduzi-lo a preencher a sua vida e ajudar os que o rodeiam a preencher as suas vidas também: a capacidade de alimentar dentro de si a semente da esperança e do sonho que a ela está associado. Essa energia positiva que carrega consigo torna-o leve e capaz de amar porque não se perde nas buscas infrutíferas da perfeição que não encontraria nunca, nem ele nem ninguém. Porque a Perfeição, se existe, está na Eternidade.





O que não significa que não seja belo o que encontramos pela imensidão da terra.
Uma flor é bela e não nos interrogamos sobre a sua perfeição. Basta olhá-la e usufruir da sua beleza ou odor.
O protagonista deste romance de Valter Hugo Mãe sabe usufruir da beleza da vida e transformar o sofrimento com o poder do amor que é capaz de entender a limitação do outro e amá-lo com essa limitação, preenchendo-se assim as metades de cada um. Usando uma imagem do autor, deixam de cair para dentro do vazio de si próprios.

Caros visitantes virtuais, convido-vos a ler este romance de compreensão, humanidade e esperança.

Também eu quando cheguei aos quarenta anos repensei a minha existência, como se tivesse chegado ao cimo de uma colina e olhasse para o percurso já percorrido e precisasse de ficar a contemplar a paisagem antes de avançar para a segunda metade da minha vida. Já lá vão sete anos desta segunda metade e posso dizer-vos que retomei o percurso mais leve. A minha bagagem é muito ligeira, levo nela apenas os que muito amo: família, amigos e a minha Fé. Nenhum deles me pesa, embora me sinta responsável por todos, tornam-me mais leve porque me ajudam a suportar o peso do que na vida é menos agradável. Estou-lhes grata por isso e valorizo-os muito em cada segundo que vou vivendo porque são esses os meus tesouros e a fonte permanente da minha esperança e da minha alegria.

Cada um com sua bagagem, caros visitantes virtuais, convido-vos a mergulhar na esperança, vejamo-la como uma alegria pública e partilhada ou como um sopro secreto dentro de cada um de nós e que nos faça ter coragem de dar o passo que precisamos de dar para ir ao encontro de quem amamos e nos faz feliz.

Um abraço virtual,

C.C.

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