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11/03/2019

Momentos do agora... preciosos




Caro(a) visitante virtual,

Escrevo hoje sobre momentos do agora... preciosos.
Num tempo em que as tecnologias que tornam perto o longe e aproximam pessoas de continentes, mas também, se não estiverem despertas, as afasta de quem faz parte do nosso dia-a-dia e sobretudo que faz parte da nossa afetividade, me parece importante refletir e atuar de forma consciente sobre as opções que fazemos. Porque a cada momento as fazemos e cada passo, por mais insignificante que pareça, constrói a nossa caminhada e nos constrói ou corrói interiormente.
O café do Sr. Moreira, com o sempre caloroso atendimento da D. Beta e da Sandra são um dos momentos preciosos do meu agora. E esses momentos de sorrisos que preenchem o quotidiano de cada um, sempre foram por mim valorizados desde que me conheço e considero que constituem o que de mais valioso tem a minha existência: dar valor a cada pequena coisa e considerar cada uma de grande importância, dure segundos, minutos, horas, dias ou anos. Porque em todo o caso tudo tem a mesma duração: agora, porque o passado já não se pode alterar e o futuro não está nas nossas mãos controlar.
Por isso, para mim, um café não é apenas um café... é um café com todo o seu aroma, sabor e toda a mágica envolvente simpatia de quem o coloca na mesa, das palavras que se trocam, dos seres humanos que se comunicam entre si e assim partilham o agora no mesmo espaço.
A dimensão social e psicológica dos espaços sociais e da sua humanização e enriquecimento de cada um é, na minha perspetiva preciosa e por isso, nada me dizem centros comerciais, hipermercados e demais mega espaços onde o anónimo e o indiferente perdura entre o consumismo desenfreado convicto que preenche vazios ou o lamber as montras na ansiedade de possuir ou na amarga sensação de recursos limitados para a oferta, que o são sempre porque a oferta é cada vez mais diversificada e atraente graças ao marketing que nos cria necessidades artificiais que de facto não temos.
É em cafés como este, onde o que prevalece é uma dimensão humanizada que podemos encontrar o que a nossa sociedade contemporânea mantém da essência do ser humano como ser social que vem evoluindo desde os tempos das cavernas como ser gregário que conduziu à evolução e à construção de uma dimensão de partilha pessoal e personalizada com uma total conexão com os outros, direta, sem a intermediação de tecnologias que, sendo muito positiva, é também muito limitada da dimensão holística de cada ser humano é e que se exprime apenas na sua presença pessoal em toda as as suas dimensões reais.


Acabei de ler recentemente "O poder do agora" de Eckart Tolle, um dos livros mais inspiradores que li nos últimos anos e com que me identifico totalmente. É um livro humanista, ecuménico e profundamente respeitador e valorizador da natureza humana que recomendo vivamente.
A leitura e as minhas reflexões fazem-me chegar à conclusão que "o agora" é o momento único das nossas vidas, que se repete em cada segundo e, se não dermos por ele, se não tivermos consciência dele, de forma despojada e sem o avaliar como bom ou mau, não usufruímos dele em proveito do nosso bem-estar e do bem-estar dos outros.
Tornarmos-nos conscientes de nós e de tudo o que nos envolve em cada segundo ou em cada minuto, ou os minutos que conseguirmos é uma aprendizagem, um treino que depois cria um mecanismo autoregulador de todo o nosso sistema biológico, psicológico e, para quem o quiser, como eu, espiritual. Estejamos onde estivermos, seja quando for, quem for e em que momento for das nossas vidas, porque esse é o momento, com tudo o que nos envolve, sejam seres humanos ou outros seres vivos, como os animais e a natureza, e mesmo, seguindo a física quântica, os seres não vivos. Tudo interage e nós interagimos com tudo.
Temos duas opções, como vejo as coisas:

Ou voltarmos a nossa vida para objetivos e metas, sejam eles quais forem, e aí, inevitavelmente as nossas expetativas poderão nunca corresponder ao que pretendíamos ou querer sempre mais e ser eternos insatisfeitos seja em que plano for, porque nunca nada dependerá só de nós, apesar das nossas competências e empenho, e nós próprios também não temos capacidade para dominar tudo o que somos... a doença e os imponderáveis são uma evidência imponderável que o mostra, a mais drástica, naturalmente, a morte.
E, nessa opção, nunca seremos mais que a sombra do que fomos e que já passou, deixando um rasto que se perde no espaço e no tempo.


Ou somos em cada momento simplesmente aquilo que somos agora. Não virados e fazendo torções antianatómicas e antinaturais seja para o que for, mas direitos, porque focados em nós próprios em cada momento.

Esta é a minha escolha... agora. Focar-me sempre que me lembre, no agora. Porque agora é, agora é o que importa. Agora é que sou verdadeiramente e inteiramente aquilo que sou, não o que fui. O que fui flui através daquilo que sou, no que o meu interior quiser transportar, porque o meu interior, como o de cada um é sábio se o deixarmos ser quem é. Foi dessa força interior que se fizeram as grandes mulheres e os grandes homens de cada época e cultura e são intemporais porque deixaram marcas de espiritualidade, infinito e eternidade na humanidade. Não tenho de modo nenhum essa pretensão, nem qualquer outra. E essa é a minha liberdade, o meu desapego, a minha conexão comigo própria, com os outros, com o que me envolve em cada momento e com uma dimensão superior em que acredito sem ter necessidade de a caracterizar.
Desapegada, mas não desligada.
Livre, mas conectada com as minhas emoções e as dos outros em cada momento.
Livre, porque o que sou sou eu própria e não as minhas circunstâncias ou apesar das minhas circunstâncias, sejam elas no momento mais ou menos favoráveis ao sorriso ou à lágrima. Ao diálogo ou ao silêncio. À luz ou à sombra. Porque ambas as dimensões são vida e coexistem, e alternam-se em ciclos de segundos, minutos, horas, dias ou anos, enquanto andarmos por aqui, no único espaço vital que conhecemos fisicamente.
Qual é a sua escolha, agora?
Neste momento já a terá feito, consciente ou inconscientemente. Volte a fazê-la, mas desta vez e cada vez mais, conscientemente. Verá os benefícios dentro de si. Senti-los-á agora. Num agora que se perpetua em vagas como as marés ou a circulação sanguínea ou outros ciclos naturais que decorrem há séculos com e apesar da intervenção humana que os procura dominar. Por mais que se tenham essa pretensão, não dominamos nada, interagimos com equilíbrio ou sem equilíbrio e os efeitos são sobretudo para nós próprios e para as gerações vindouras porque cada passo e cada gesto de cada um de nós importa agora e deixa rasto.
Agora, deixe um rasto positivo, num sorriso, numa palavra amável, num pedido de desculpa se for o caso, num elogio se for genuíno, num silêncio que cale um insulto, num gesto que acaricie seja quem for ou seja o que for, num aroma com que escolha perfumar-se ou perfumar o seu espaço, numa música que soe em harmonia, numa cor que vista ou pinte, numa embalagem que recicle, numa refeição que cozinhe, num qualquer ato de profundo respeito, reconhecimento e valorização por si próprio, pelos outros, pelo que conhece e compreende, mas também pelo que não conhece e por isso, não compreende.

Um abraço virtual e obrigada pela sua visita, agora.

C.C.

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