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23/05/2019

Um amor inspirador: Snu Abecassis e Francisco Sá Carneiro



Caro(a) visitante virtual,

Vi recentemente o filme "Snu". 
Não poderia deixar de o ver. Esta história de amor marcou a minha adolescência e juventude vividas na transição da ditadura, de que ainda na infância, pouco me apercebi, mas cujo drama de um país e de um povo me fui apercebendo, já na democracia, com idade para ter já consciência crítica formada e o privilégio da convivência com as gerações anteriores que haviam sofrido na pele a ditadura a todos os níveis.
Sou uma filha da liberdade, pois embora com raízes da infância na ditadura, delas apenas me restam a memória de um ensino primário em que Pátria, Nação e Religião se misturavam num país ainda tão analfabeto e atrasado em termos culturais, económicos e sociais, atrofiado que fora no mofo enclasurador da ditadura, e do estupidifiante "Orgulhosamente sós".
Emboa muito jovem, lembro-me bem da diferença que sentia entre os discursos fechados e limitadores dos lideres da ditadura e dos discursos abertos e estimulantes dos lideres dos vários partidos políticos que foram saindo da clandestinidade. lembro-me da abertura das portas das prisões e da saída dos presos políticos, lembro-me do país em festa num 25 de abril em que se misturavam carros militares, fardas, povo, cravos vermelhos, abraços, slogans gritados em euforia coletiva e discursos inflamados pela esperança que nascia num país apodrecido que aforrava nas masmorras da PIDE e de prisões em Portugal e no desterro de provínias ultramarinas que clamava serem suas ultrajando o direito à liberdade e à autodeterminação dos povos, violando direitos humanos fundamentais dentro das suas próprias fronteiras e em espaços além-mar que nunca lhe pertenceram por direito.
Lembro-me das poesias e das canções de rutura de sistema e de rasgos de liberdade dentro do próprio ser humano que também as suas almas eram oprimidas, os seus pensamentos atrofiados, os seus gestos condenados e as suas palavras ditas ou escritas amordaçadas. Tudo a bem do regime que uma minoria no poder queria conservar à força, escorraçando mentes pensantes e esvaindo o país do seu intelecto, valores culturais e homens e mulheres corajosos que nem à força da intimidação se deixavam vencer.
O filme em nada me desiludiu, bem pelo contrário, trouxe à superfície com a cor e o cheiro do momento uma realidade que fez parte da minha vida mesmo tanto em momentos em que ainda não tinha consciência do que vivia como em momentos em que pude também já vibrar com um país a florescer para a liberdade, a democracia e o respeito dos direitos humanos. 
Está de parabéns Patrícia Sequeira que co-escreveu e realizou de forma belíssima o filme Snu, com inesquecíveis passagens dos sonhos de Snu apresentados de forma absolutamente magnífica em termos de jogo de cor e som, os protagonistas Inês Castel-Branco, no papel de Snu e Pedro Almendra, no papel de Francisco Sá Carneiro, o casting para estes e outros atores que tão bem protagonizaram os seus personagens e a reprodução dos locais num ambiente próprio da época, como "O Botequim" da Natália Correia com os famosos saraus onde tantos intelectuais e artistas puderam respirar um ar apesar de tudo mais liberto e aberto num país contido em amarras para não respirar, exprimir e deixar crescer qualquer semente de diferença ou contestação que ameaçasse o poder da ditadura.
Lembro-me bem de muito ver e ouvir na RTP e imprensa escrita sobre a controversa história de amor entre Francisco Sá Carneiro, então Primeiro Ministro de Portugal, casado e com filhos, e Snu Abecassis, da D. Quixote, estrangeira, também ela casada e com filhos. A palavra "amantes" era uma palavra que se colava à história pessoal destas duas figuras públicas, cada um deles com respeitáveis laços familiares que a sociedade reconhecia e valorizava. A todo o momento se esperando que a normalidade esperada se repusesse, que o devaneio terminasse e que, passado o fogo da paixão, as elites políticas pudessem sossegar os seus medos de perda de força de liderança de um homem carismático de quem o país tanto precisava, pouco ou nada se falando sobre o importantíssimo papel da Snu à frente das publicações D. Quixote e o quanto ela havia sido corajosa e aberto espaço, apesar das visitas constantes e ameaças pessoais da PIDE, para publicar vozes arejadas e corajosas como a do homem por quem acabou por se vir a apaixonar e também ele por ela, com igual determinação.
Nunca me esqueci do quanto me impressionou já na altura a coragem de ambos por, apesar de tudo e apesar de todos, com toda a transparência, assumirem o seu amor publicamente, com toda a dignidade. a forma corajosa como ambos, cada um com as respetivas famílias, assumiu abertamente o amor vivido e lamentou o sofrimento que isso causava inevitavelmente às mesmas. Poderíam não o ter feito. Poderiam ter vivido o seu amor na clandestinidade e com todo o apoio social e popularidade sem serem questionadas, mantendo a aparência dos seus casamentos sólidos, como moldura perfeita para o aplauso religioso, social e político. Não o quiseram fazer.
E, não o quiseram fazer porque o amor que sentiam um pelo outro era genuíno e demasiado belo para ser vivido escondido, como se de um mal se tratasse que importa encobrir. Um amor a cores não se deixa viver na penumbra porque não é essa a sua natureza, precisa de sair para fora, andar ao ar livre, interagir sem esperar horas tardias ou espaços vedados. Um amor que aceita não se mostrar aos outros é um amor frágil, passageiro, que sabe que pode viver contido e limitado porque não será por muito tempo. Será o que for, certamente não será amor. E o amor de Snu e Francisco era amor, e por isso digo que era um amor inspirador e continua a ser um amor inspirador.
Também inspirador porque um e o outro o puseram à frente de qualquer outro objetivo: sucesso político, reconhecimento social, popularidade e até paz pessoal. É este o amor que vale a pena ser vivido, um amor em que o outro (a outra) importa de tal maneira pelo que é que o resto se torna secundário.
Lembro-me de quando vi o filme, de ter pensado que só uma mulher tão bonita poderia inspirar a um homem tão grande paixão e amor.
Foi uma reação de pele, de imediato, de alguém que nunca sentiu o privilégio de um amor assim, apesar de já tudo ter dado para que isso acontecesse em mais de meio século de vida.
É provavelmente uma reação que muitas mulheres e muitos homens que como eu não tiveram ainda esse privilégio de pensar que só a pessoas absolutamente extraordinárias é possível vir a experienciar um amor assim.
Assumo que no momento fugaz em que fiz esse juízo, distorcido pela minha história pessoal, fui injusta na minha avaliação, ainda que por segundos, mas partilho-a porque muitas vezes pelas mesmas razões se fazem juízos deste tipo que perduram injustamente e ferem também quem os faz. Snu Abecassis era de facto uma mulher lindíssima, mas era muito mais do que isso, era a mulher que era e foi pela mulher que ela era que mereceu todo o amor que teve. O mesmo tendo sucedido com Francisco Sá Carneiro. E tiveram ambos a felicidade de coincidirem no sentimento genuído de amor um pelo outro. E é aqui que está a chave da beleza desse amor.
Sempre gostei de ver relações amorosas felizes, sempre as achei inspiradoras e continuo a achar.
Não falo de relações postiças, de relações de parasitismo ou de manipulação, de acomodação de mortos-vivos, chame-se-lhes casamento, união de facto ou não se lhes chame nada. Não falo dessas relações porque não importa desperdiçar o meu tempo e a minha atenção com elas, cada um dos que neles vive saberá se nelas quer permanecer, não é da minha conta.
Falo de relações genuínas, não importa há quanto tempo durem, mas que existem, em que cada um se sente feliz com o outro como é, e apesar do que é; em que cada um sente que a sua vida é mais feliz por ter o outro ao seu lado em cada dia; em que cada um sente que no fim do dia, num bom ou num mau momento quer que seja aquela pessoa e não outra o seu ombro de apoio, a sua voz ao ouvido, a sua carícia no rosto, a palmadinha nas costas, o afagar dos cabelos, o olhar que serana o espírito... o porto de chegada.
Muitos e muitas de vós queridos amigos e amigas, e visitantes virtuais que me lêm, já encontraram o vosso porto de chegada, e isso sente-se, e é inspirador. Estou a escrever estas linhas e a lembrar-me de casais amigos que conheço que estão casados alguns há mais de 30 anos, outros menos, casados, em uniões de facto ou simplesmente juntos, não importa, o que importa é o quanto o vosso amor é inspirador, não apenas para vós, mas também para quem não teve ainda a felicidade de encontrar esse porto de chegada mas que continua a acreditar que ele existe, também para si. Poderá é nunca o vir a encontrar porque o ruído de tantas outras coisas nos passa mensagens erradas que não é fácil descodificar o caminho, as emoções erradas que se fazem passar por certas, os afetos destrutivos que fazem ruir a esperança que cada dia temos que reconstruir para continuar a acreditar que talvez para quem ainda não chegou a esse porto, um dia lá consiga chegar e valerá certamente a pena.
A quem já encontrou esse amor, desejo que olhe bem para ele e o valorize se nunca o fez. Que o valorize todos os dias, pois cada dia ao lado de quem o amo como é e que também ama como é, apesar dos pequenos nadas que todos temos, é um dia precioso, duplamente valioso, porque é partilhado com quem merece e com quem o faz feliz.
A quem ainda já encontrou esse amor e o perdeu. Se o perdeu verdadeiramente foi apenas para a morte, pois uma amor deste tipo não se deixa vencer pelos obstáculos da vida do dia a dia, cresce com eles e apesar deles; não se escoa na banalidade do tempo a passar, porque cada dia acrescenta história comum, reforça laços e descobre a necessidade de se manifestar porque o amor é em si mesmo expressão de afeto e de emoções pelo outro. Se não foi isto que perdeu, se o que perdeu não foi para a morte, não perdeu amor, perdeu qualquer outro sentimento, emoção ou confusão, mas não amor. O amor não acaba. Pode é nunca ter sido amor. Correspondido, naturalmente, pois não o sendo, também não é amor, é seja o que for, talvez nem importe saber o que foi, pois certamente já deu nesse caminho tudo o que era de si e não bastou, talvez tenha mesmo dado mais de si do que devia ter dado e deixou passar o tempo que era seu e não viveu, vegetou.
Seja qual tiver sido a circunstância, não importa agora se não encontrou ainda o amor inspirador que vale a pena viver, aquele que é leve todos os dias, porque o vive como se respirasse, naturalmente. Porque quem caminha consigo vai ao seu lado, não atrás, nem à frente, mas a seu lado.
Porque quem caminha consigo o olha nos olhos e lhe sorri grato por o ter a seu lado, seja quem for, o que faz, seja qual for a sua beleza ou a falta dela, a alegria ou a falta dela, a saúde ou a falta dela, será sempre bom sentir o calor da sua mão ou a frescura da sua mão.
É esta, no meu entender, a única forma de amor romântico que vale a pena. E é aquela em que sempre acreditei. ter lá chegado ou não, não importa.
O que importa é a genuinidade com que vivi o que acreditei que fosse.
O que me importa é em cada dia ser eu própria e sentir-me bem com quem sou, apesar dos meus pequenas nadas que não são comparáveis aos de nenhuma outra pessoa porque não têm que ser. Isso é um exercício inútil e eu não gosto de coisas inúteis porque há tanto de útil e agradável para fazer que nem um segundo vale a pena desperdiçar com o que não merece a nossa atenção.
O que importa é que escrevo este post independentemente de vir a ser lido por 1 pessoa, 1000 ou 10000.
O que importa é que ao escrevê-lo, já foi bom para mim e será tanto melhor quanto mais ele for útil nem que seja a apenas 1 visitante virtual que o leia porque estamos juntos nesta caminhada de auto-conhecimento e auto-descoberta e todos  procuramos o mesmo, embora lhe demos nomes e formas diferentes: sentir-nos bem connosco e com os outros, chame-se-lhe equilíbrio, felicidade, amor ou realização, ou simplesmente: VIDA.

Um abraço, caro visitante virtual, e boa caminhada, que vá encontrando pistas para o que procura e, quando encontrar, continue a caminhar ao lado de quem o merecer.

C.C.

11/03/2019

Momentos do agora... preciosos




Caro(a) visitante virtual,

Escrevo hoje sobre momentos do agora... preciosos.
Num tempo em que as tecnologias que tornam perto o longe e aproximam pessoas de continentes, mas também, se não estiverem despertas, as afasta de quem faz parte do nosso dia-a-dia e sobretudo que faz parte da nossa afetividade, me parece importante refletir e atuar de forma consciente sobre as opções que fazemos. Porque a cada momento as fazemos e cada passo, por mais insignificante que pareça, constrói a nossa caminhada e nos constrói ou corrói interiormente.
O café do Sr. Moreira, com o sempre caloroso atendimento da D. Beta e da Sandra são um dos momentos preciosos do meu agora. E esses momentos de sorrisos que preenchem o quotidiano de cada um, sempre foram por mim valorizados desde que me conheço e considero que constituem o que de mais valioso tem a minha existência: dar valor a cada pequena coisa e considerar cada uma de grande importância, dure segundos, minutos, horas, dias ou anos. Porque em todo o caso tudo tem a mesma duração: agora, porque o passado já não se pode alterar e o futuro não está nas nossas mãos controlar.
Por isso, para mim, um café não é apenas um café... é um café com todo o seu aroma, sabor e toda a mágica envolvente simpatia de quem o coloca na mesa, das palavras que se trocam, dos seres humanos que se comunicam entre si e assim partilham o agora no mesmo espaço.
A dimensão social e psicológica dos espaços sociais e da sua humanização e enriquecimento de cada um é, na minha perspetiva preciosa e por isso, nada me dizem centros comerciais, hipermercados e demais mega espaços onde o anónimo e o indiferente perdura entre o consumismo desenfreado convicto que preenche vazios ou o lamber as montras na ansiedade de possuir ou na amarga sensação de recursos limitados para a oferta, que o são sempre porque a oferta é cada vez mais diversificada e atraente graças ao marketing que nos cria necessidades artificiais que de facto não temos.
É em cafés como este, onde o que prevalece é uma dimensão humanizada que podemos encontrar o que a nossa sociedade contemporânea mantém da essência do ser humano como ser social que vem evoluindo desde os tempos das cavernas como ser gregário que conduziu à evolução e à construção de uma dimensão de partilha pessoal e personalizada com uma total conexão com os outros, direta, sem a intermediação de tecnologias que, sendo muito positiva, é também muito limitada da dimensão holística de cada ser humano é e que se exprime apenas na sua presença pessoal em toda as as suas dimensões reais.


Acabei de ler recentemente "O poder do agora" de Eckart Tolle, um dos livros mais inspiradores que li nos últimos anos e com que me identifico totalmente. É um livro humanista, ecuménico e profundamente respeitador e valorizador da natureza humana que recomendo vivamente.
A leitura e as minhas reflexões fazem-me chegar à conclusão que "o agora" é o momento único das nossas vidas, que se repete em cada segundo e, se não dermos por ele, se não tivermos consciência dele, de forma despojada e sem o avaliar como bom ou mau, não usufruímos dele em proveito do nosso bem-estar e do bem-estar dos outros.
Tornarmos-nos conscientes de nós e de tudo o que nos envolve em cada segundo ou em cada minuto, ou os minutos que conseguirmos é uma aprendizagem, um treino que depois cria um mecanismo autoregulador de todo o nosso sistema biológico, psicológico e, para quem o quiser, como eu, espiritual. Estejamos onde estivermos, seja quando for, quem for e em que momento for das nossas vidas, porque esse é o momento, com tudo o que nos envolve, sejam seres humanos ou outros seres vivos, como os animais e a natureza, e mesmo, seguindo a física quântica, os seres não vivos. Tudo interage e nós interagimos com tudo.
Temos duas opções, como vejo as coisas:

Ou voltarmos a nossa vida para objetivos e metas, sejam eles quais forem, e aí, inevitavelmente as nossas expetativas poderão nunca corresponder ao que pretendíamos ou querer sempre mais e ser eternos insatisfeitos seja em que plano for, porque nunca nada dependerá só de nós, apesar das nossas competências e empenho, e nós próprios também não temos capacidade para dominar tudo o que somos... a doença e os imponderáveis são uma evidência imponderável que o mostra, a mais drástica, naturalmente, a morte.
E, nessa opção, nunca seremos mais que a sombra do que fomos e que já passou, deixando um rasto que se perde no espaço e no tempo.


Ou somos em cada momento simplesmente aquilo que somos agora. Não virados e fazendo torções antianatómicas e antinaturais seja para o que for, mas direitos, porque focados em nós próprios em cada momento.

Esta é a minha escolha... agora. Focar-me sempre que me lembre, no agora. Porque agora é, agora é o que importa. Agora é que sou verdadeiramente e inteiramente aquilo que sou, não o que fui. O que fui flui através daquilo que sou, no que o meu interior quiser transportar, porque o meu interior, como o de cada um é sábio se o deixarmos ser quem é. Foi dessa força interior que se fizeram as grandes mulheres e os grandes homens de cada época e cultura e são intemporais porque deixaram marcas de espiritualidade, infinito e eternidade na humanidade. Não tenho de modo nenhum essa pretensão, nem qualquer outra. E essa é a minha liberdade, o meu desapego, a minha conexão comigo própria, com os outros, com o que me envolve em cada momento e com uma dimensão superior em que acredito sem ter necessidade de a caracterizar.
Desapegada, mas não desligada.
Livre, mas conectada com as minhas emoções e as dos outros em cada momento.
Livre, porque o que sou sou eu própria e não as minhas circunstâncias ou apesar das minhas circunstâncias, sejam elas no momento mais ou menos favoráveis ao sorriso ou à lágrima. Ao diálogo ou ao silêncio. À luz ou à sombra. Porque ambas as dimensões são vida e coexistem, e alternam-se em ciclos de segundos, minutos, horas, dias ou anos, enquanto andarmos por aqui, no único espaço vital que conhecemos fisicamente.
Qual é a sua escolha, agora?
Neste momento já a terá feito, consciente ou inconscientemente. Volte a fazê-la, mas desta vez e cada vez mais, conscientemente. Verá os benefícios dentro de si. Senti-los-á agora. Num agora que se perpetua em vagas como as marés ou a circulação sanguínea ou outros ciclos naturais que decorrem há séculos com e apesar da intervenção humana que os procura dominar. Por mais que se tenham essa pretensão, não dominamos nada, interagimos com equilíbrio ou sem equilíbrio e os efeitos são sobretudo para nós próprios e para as gerações vindouras porque cada passo e cada gesto de cada um de nós importa agora e deixa rasto.
Agora, deixe um rasto positivo, num sorriso, numa palavra amável, num pedido de desculpa se for o caso, num elogio se for genuíno, num silêncio que cale um insulto, num gesto que acaricie seja quem for ou seja o que for, num aroma com que escolha perfumar-se ou perfumar o seu espaço, numa música que soe em harmonia, numa cor que vista ou pinte, numa embalagem que recicle, numa refeição que cozinhe, num qualquer ato de profundo respeito, reconhecimento e valorização por si próprio, pelos outros, pelo que conhece e compreende, mas também pelo que não conhece e por isso, não compreende.

Um abraço virtual e obrigada pela sua visita, agora.

C.C.

21/01/2019

A esperança que resulta do desprendimento - Votos de um bom ano 2019 para todos os meus leitores



Post dedicado,a título póstumo, ao meu querido amigo, Joaquim Silva Pereira


Cara(o) visitante virtual,

Pela primeira vez desde que criei este blogue, em 2011, estive um ano sem nele escrever qualquer post. Não porque durante esse ano tenha perdido a esperança e nada conseguisse dizer sobre o assunto, mas porque muitas vezes a perdi e voltei a reencontrar na força deste blogue cujo alcance está muito para além do que eu possa escrever ou dizer porque a Esperança é ela própria uma força da natureza e um apelo que existe dentro de cada um de nós, eu apenas sou uma das pessoas que lhe confere importância conscientemente e que acha importante dar-lhe voz.

A pessoa que me impeliu a retomá-lo já partiu. O meu muito querido amigo Joaquim Silva Pereira, a quem dedico a reabertura deste blogue, como sei que ele muito valorizaria. Deixou-nos no fim de dezembro e enquanto me despedia dele, já sem vida física, vi um homem com uma nobreza de caráter e genuinidade comoventes. Um homem inteligente, culto, excelente profissional, avô e pai de família e verdadeiramente um grande amigo a quem a educação e sobretudo o ensino superior neste país devem uma vida de entrega e onde tive o enorme privilégio de o conhecer, de trabalhar com ele, de chefiar o seu trabalho e de com ele partilhar as conversas mais profundas e abertas, os pensamentos sem reservas, tudo o que a alma, o coração e a mente humanas produzem e que só com quem compreende e valoriza merecem ser partilhados.


(Joaquim Silva Pereira, ao centro discursando no lançamento do seu livro de poesia "No ventre da ausência" )

Joaquim, a título póstumo, obrigada pelo amigo que sempre foste e continuas a ser, como se vê, por este post que inspiraste no dia da tua partida. Porque tu me valorizavas como ser humano e como mulher.

Porque tu acreditavas neste blogue, muitas vezes mais que eu própria e por isso mesmo, em tua homenagem o retomo. Porque tu és um verdadeiro humanista e poeta, recentemente publicado, mas com tanta dádiva por publicar que eu tive o privilégio de conhecer.

De algum modo todas as experiências de vida precisam de vez em quando de algum afastamento, mesmo que motivado pelas circunstâncias do dia a dia, para as podermos ver de fora e avaliar o seu devido peso e valor. Houve uma circunstância de peso na minha vida que ia sempre soando baixinho ao meu ouvido que nada do que eu pudesse fazer tinha algum valor, que tudo eram banalidades, eu própria não passava de uma banalidade. E a consciência de se ser banalidade instala-se de forma insidiosa e perigosa porque não nos damos conta de que chega, traiçoeira e sorrateiramente infiltrando-se na nossa mente e criando-nos uma percepção de nulidade em que mesmo as coisas que mais gostamos de fazer e até, porventura, que melhor fazemos e onde damos o melhor de nós, passamos a ver e a pressentir que são meras e insignificantes banalidades como se algo mais que nós próprios ou alguém melhor que nós próprios pudesse avaliar a importância da dimensão do que somos e nos damos seja a quem for e seja ao que for.

O meu amigo Joaquim, foi uma voz contra-corrente em muita coisa na vida, um lutador consciente e empenhado na valorização da dignidade e do valor humanos e que mesmo no meu maior desalento, ainda que o não ouvisse por ser densa a negritude que me cobria e atrofiava a existência, e ele o soubesse, nunca desistiu de estar ao meu lado como amigo, ainda que simplesmente para almoçar em quase silêncio quando a vida de um ou do outro requeriam apenas a força da presença da nossa amizade, até aos últimos tempos em que apenas SMS nos uniam e uma última conversa telefónica que guardo na memória como um tesouro.


Pois bem, um ano volvido e sem que eu tenha feito um gesto seuqre, o presente blogue com o que cá fui depositando dos meus pensamentos e percepções sobre o ser humano, o sentido da vida e o sentido e valor da beleza do dia a dia, se o quisermos e tivermos condições físicas, psíquicas e espirituais para o apreciar, aumentou em mais de 1000 leitores dispersos por todo o mundo. Eu parei durante um ano de escrever. Mas a força da esperança que nele fui depositando, as pequenas sementes germinaram sozinhas levadas por este vento virtual a que retorno pela força da amizade que tem laços na eternidade. Escrevo este post que sei que o meu amigo Joaquim leria e comentaria e quase consigo imaginar os comentários que faria de tão bem nos conhecermos.

A leveza que resulta do desprendimento, foi a minha mais recente aprendizagem e fonte de serenidade e harmonia. Ao longo da minha vida em diferentes momentos e contextos tomei contacto com ideais religiosos, espirituais e culturais que de formas diferentes procuravam apelar ao desprendimento, mas de algum modo formatada numa sociedade contemporânea e numa economia competitiva muito presa a indicadores e resultados de projetos e atividades que empreendemos, nunca tinha conseguido captar o sentido desta palavra como de algum tempo para cá não apenas a capto, mas sobretudo, a vivo.
Desprendimento parecia-me algo como um desinteresse, irresponsabilização ou até desinvestimento em nós próprios e nos outros. Desprendimento era, para mim, inconscientemente uma palavra com uma carga negativa que repelia qualquer tentativa de abertura a um sentido mais súbtil e até comprometedor da mesma.
Desprender-me de resultados das minhas ações era algo que me parecia impensável assumir, porque não correto do ponto de vista das minhas responsabilidades como indivíduo integrado numa sociedade com a minha quota parte de responsabilidade pela mesma.
Não tinha ainda descoberto a verdadeira essência e força energética e libertadora do desprendimento.
Conhecia apenas o conceito de lutar e de resistir, de enfrentar os desafios da vida nos seus vários planos e de ser responsável por responder aos mesmos.



Não me ocorria sequer questionar-me se valeria a pena resistir, lutar e responder.
Não me ocorria sequer que houvesse outras respostas a equacionar, outros caminhos a procurar desvendar, no meu interior, mais em consonância comigo própria.
Não me ocorria que mesmo quando tudo procuramos fazer para que a nossa vida ou projetos sucedam como planeámos, sonhámos ou até nos empenhámos, não está ao nosso alcance o que resulta do caminho que percorremos.
Pela simples razão que não o percorremos nunca sozinhos.
Pela simples razão que nunca o percorremos da mesma forma em cada momento.
Pela simples razão que nunca o percorremos despojados das experiências e interações sociais atualizadas ao segundo.

Li recentemente um livro inspirador também nessa linha e que recomendo:



Na minha perspetiva as linhas espirituais às grandes religiões e aos profetas de todos os tempos são comuns e a sua linguagem é simples, clara e evidente porque é eterna, imutável e nos transcende. E, comos nós, seres humanos, que na pequenez das nossas limitações, ousamos acreditar que dominamos a linguagem do sagrado, seja em que religião for, mas o sagrado, o espiritual, a profundidade, chame-se-lhe o que se quiser chamar está dentro de nós e cresce, se o quisermos e permitirmos. E, a felicidade não é mais que acreditar nessa dimensão de infinita beleza, riqueza, diversidade, bondade, simplicidade e serenidade que existe dentro de nós.

Quanto a mim, para nós humanos, e por mim falo, a maior dificuldade no acesso à felicidade consiste precisamente em permitirmo-nos abandonar-nos à serenidade, ao equilíbrio natural entre nós, cada ser que nos rodeia, a natureza, o universo, e para quem é crente, que é o meu caso, um Poder Superior a que aprendi a chamar Deus.

Não poderia deixar de terminar este post com um poema do meu querido amigo Joaquim Silva Pereira recentemente publicado, felizmente ainda em vida dele e que sei que seria a forma que ele gostaria que me despedisse dele, precisamente porque esta despedida é uma partilha não do que ele foi, mas do que ele é, que continua muito presente em todos quantos tivemos o privilégio de o conhecer e, sobretudo, de ser seus amigos. Querido Joaquim, assim te revisito, uma vez mais:

Votos de um bom ano 2019 a todas as minhas leitoras e leitores e de uma inspiradora serenidade que vos tranquilize e faça impelir para o que há de mais belo dentro de cada um e à sua volta.

Um abraço virtual.

Célia Chamiça

02/01/2018

A esperança que resulta de um novo ano nascente




Cara(o) visitante virtual,

Antes de mais, votos de um bom ano novo. Se é a sua primeira visita a este blogue, seja bem-vindo. Se já é visitante regular ou pontual, é bom tê-lo de volta neste novo ano.
Depois de sete anos a escrever num blogue sobre esperança, e exclusivamente sobre esperança, só não desisti deste projeto porque muitos de vós me vão de tempos a tempos suscitando e até interpelando para partilhar reflexões neste sentido. Não fosse o vosso feedback que muito valorizo e consideraria inútil este diálogo de que só vejo expressão no post que resulta em cada momento e que, depois de feito, deixa sempre a dúvida se não diz um conjunto de evidências, ou até mesmo de banalidades.
Assim é com muita coisa simples da nossa vida. Com muita coisa que construímos no recato dos nossos momentos a sós connosco próprios. Assim é, creio eu, com muita coisa cujos resultados pouco nos chegam ou não chegam de todo, mas nas quais persistimos porque acreditamos que vale a pena dar  tudo de nós nesses pequenos momentos. E, para mim, desde que alguém, um visitante só que seja, que ao entrar neste blogue, se sinta mais reconfortado ou sintonizado com a vida, o seu sentido e a esperança, já valeu a pena continuar por aqui.

O final de um ano traz-nos o habitual ritual dos balanços de vida. Como se corressemos o ano apressados e junto à última badalada da meia-noite quisessemos entender tudo, mudar tudo o que precisa de ser mudado e, se calhar, mesmo o que não precisa. No início de janeiro de cada ano voltam a encher os ginásios, iniciam-se projetos e tomam-se decisões e caem nos próximos meses senão nas próximas semanas, ou mesmo nos próximos dias.



É um facto que o termo de um ano nos confronta com a nossa finitude e, ainda que inconscientemente, nos faz pensar se temos andado a dedidar a nós próprios e aos que amamos, o tempo e a atenção necessárias para ter qualidade de vida e qualidade relacional com os outros. Mas, no meu entender, não são julgamentos apressados sobre nós próprios, sobre a nossa vida, nem sobre os outros que nos ajudam a tomar decisões amadurecidas, transformadoras e também serenadoras e que nos coloquem em harmonia com o nosso ser interior e o universo social e ambiental que nos rodeia.

No entanto, se não devemos tomar decisões na base do contra-relógio, é regra de qualquer manual de ciências comportamentais e de psicologia, e o senso comum mostra bem os erros em que incorrem decisões precipitadas.
Mas, também é um facto que o nascimento de um novo ano é uma boa oportunidade, como qualquer outra, que não deve ser desperdiçada sob pena de nos afastarmos da essência do que somos e nos faz sentir bem connosco, com os outros e com o universos, para darmos atenção a nós próprios, ouvir o nosso ser interior e procurar tentar perceber se estamos em sintonia com ele e em harmonia com a família, os amigos, o trabalho, a sociedade e a natureza ou se há desvios que nos deixam desconfortáveis e que devemos analisar para nos sentirmos bem, equilibrados, realizados e sobretudo amados, também por nós próprios e, para quem acredita, como eu, por um Poder Superior a que chamo Deus.

O meu balanço de vida relativo a 2017 , desta vez, pela primeira vez, não foi feito no fim do ano como fiz habitualmente ao longo de já cinco décadas de vida. O meu balanço aprendi a fazê-lo numa base diária no final de cada dia e os reajustes que fui precisando de fazer, precisamos sempre (acho eu), fui-os fazendo ao longo do ano. talvez por isso tenha chegado ao final do ano não apenas com mais energia, mas também com o sentido de dever cumprido, porque sei que em cada momento, conscientemente, dei o melhor de mim; sei que em cada momento estive com quem quis estar e com quem precisava e valorizava que eu estivesse a seu lado com a minha amizade; sei que em cada momento procurei escutar-me a mim própria, escutar o meu Poder Superior e escutar aquelas pessoas que são importantes para mim e as que precisam de mim. 
E, assim, entrei em 2018 com uma harmonia e serenidade, posso mesmo dizer uma sensação de bem-estar que só me lembro de conhecer na minha juventude quando ainda tinha diante de mim todos os sonhos que achava possíveis e o horizonte do ideal em que basta o amor para seremos felizes. Hoje sei que não basta, hoje com os meus mais belos sonhos desfeitos sei que muito mais que o amor que se sente importa a capacidade de amar e de comunicar esse amor. A capacidade de estar atento ao outro e verdadeiramente disponível para o ouvir com atenção e para o fazer feliz nas pequenas coisas que sabemos que o(a) fazem feliz. 
Mas, esta consciência de um projeto de vida de quase um quarto de século desfeito não me tornou amargurada nem desiludida, apenas consciente da enorme bênção que é duas pessoas amarem-se e saberem comunicar entre si numa linguagem que ambas entendem esse amor. E, se já valorizava isso, valorizo ainda mais agora e faz-me  genuinamente muito feliz ver quem, em cada dia, consegue fazer do amor a alguém ou a várias pessoas numa família, causa religiosa, social ou humanitária uma linguagem percetível àqueles a quem se destina. Uma linguagem que se capta e nos aquece por um segundo, minuto, hora, semana, dia, mês, ano ou eternidade, porque quem na vida transmitiu um amor com esse calor deixou-o para sempre impregnado na alma de quem o recebeu.
Um feliz 2018 para si caro (a) visitante virtual, faça por isso, não no último minuto deste ano, mas desde já. tenha uma conversa corajosa consigo próprio e com seja quem mais for que precisa de ter e mude o que precisar de mudar... em si, não nos outros, porque essa parte não lhe compete e só se frustará a tentar porque está fora do seu alcance. Mas, se mudar em si, quem sabe talvez consiga motivar mudanças em seu redor que beneficiem seja quem for com quem se relaciona e a que nível. Surpreenda-se com o efeito transformador e libertador do encontro corajoso consigo e com os outros.
E, quando for a última badalada de 2018, poderá olhar para trás e dizer que está orgulhoso com o que tentou fazer e conseguiu e com o que tentou e não conseguiu, porque não dependia só de si. Uma coisa é certa, estará orgulhoso porque não ficou na inércia, no comodismo, na preguiça e no enfado de que se lamentaria no final do ano com mil e uma coisas que diria "não há maneira de mudarem e estão sempre iguais". Pois, é que nada muda sozinho e nada de relevante muda se nada fizermos para isso. E, se chegar à conclusão que não quer mudar nada porque se sente bem assim? Então parabéns, e regozije-se com essa constatação e esteja grato por ela. Se não tivesse interrogado o seu interior usufruiria pachorrenta e apaticamente de algo porque deve estar grato.

Caro visitante virtual acorde desde já para o novo ano. 2018 está à sua espera, apanhe o comboio, escolha a sua carruagem preferida, escolha mesmo o seu ritmo adequado e as suas companhias preferidas e... boas descobertas, boas realizações e muita harmonia e serenidade. Desejo que se encontre com a pessoa mais especial nesta viagem... você-próprio(a).

Um bom ano
C.C.

24/11/2017

A esperança que resulta do equilíbri entre o cérebro físico e o cérebro emocional



Caro(a) visitante virtual,

Escrevo-vos hoje sobre mais um livro inspirador de esperança e de bem-estar interior e equilíbrio com os outros e com o mundo. Trata-se do livro "Curar", de David Servan-Schrieber. Embora o sub-título do livro seja sobre a cura do stess,  da ansiedade e da depressão sem medicamentos nem psicanálise, o livro é bem mais do que isso. 
Trata-se de uma interessantíssima reflexão sobre o homem contemporâneo, sobretudo nas sociedades ocidentais, na minha modesta perspetiva e na de muitos autores e estudiosos que tenho lido e ouvido, sobrehumanamente sobrecarregada de expetativas, objetivos e metas, sejam elas familiares, profissionais, culturais, económicas, políticas ou outras.
Eu, no meu já completo meio século de existência identifico-me perfeitamente com uma geração ocidental de transição de século educada para se realizar nos vários planos por etapas a alcançar. Hoje, com os auto-balanços pessoais e profissionais que tenho feito, com as leituras e recolhas de ideias, pensamentos e reflexões, mas também com a cultura que venho desenvolvendo nos últimos anos de yoga, meditação e aprendizagem com a sabedoria oriental ancestral e que junto sem qualquer conflito de coerência à minha formação e opção de vida espiritual de base ocidental e católica, vejo as coisas por um prisma bem diferente. Para mim mais coerente, tranquila e até pessoalmente mais proveitosa e valorizadora no que entendo ser a essência do ser humano e social, por isso a partilho.

Hoje a forma como vejo o ser humano na sua essência e o que procuro transmitir aos meus filhos nesta minha visão amadurecida da vida é que não há múltiplas metas que nos confundam o espírito, o horizonte e dispersem energias. Por opção pessoal, libertei-me de todas as expetativas, metas e objetivos. Não foi fácil. Senti-me perdida quando numa fase da minha vida ruiram as metas e objetivos em que tanto acreditei e em que tanto me empenhei, o principal, o casamento de quase 25 anos, mas também um contexto profissional recente em que por mais que trabalhasse, me empenhasse e respeitasse todos, não era era o retorno da realização profissional que encontrava. Simplesmente porque quer num caso quer noutro nada dependia apenas de mim e, mesmo que dependesse, apesar de eu crer tudo fazer de melhor e pelo melhor, certamente não era esse o entendimento da outra parte, quando mais não seja porque os nossos patrimónios e características emocionais são muito diferentes e podem até ser dissonantes se um verdadeiro diálogo interior entre as partes não ocorre ou ocorrendo se perde fazendo por arrastamento perder o sentido das relações sejam elas pessoais, familiares, sociais ou profissionais. 
Não pretendo com esta afirmação, de modo nenhum dizer que se deve desistir de investir nas relações humanas sejam elas quais forem, bem pelo contrário. E eu estou consciente que tudo fiz e que fiz o melhor que sabia em cada momento para que as relações não ruíssem, mesmo nos casos referidos em que ruiram. Faltou a ambas as partes a capacidade de diálogo e entendimento interior que permitisse que as pontes entre ambas não desabassem e, quando se perde o contacto entre a coerência do cérebro emocional e o físico de que cada ser humano é composto. as relações perdem a sua essência e decompoem-se naturalmente, mesmo as relações connosco próprios se perdermos a relação entre o nosso cérebro emocional e físico, como bem explica o livro que referi no início deste post.
Hoje não preciso de expetativas, metas nem objetivos, basta-me a cada dia ser o melhor que consigo ser para mim e para os que rodeiam na família, no trabnalho e onde quer que me encontre. Porque hoje sei que sejam quais forem, as expetativas, metas e objetivos que eventualmente possa pensar que me fazem feliz verdadeiramente não sei se terão esse efeito, verdadeiramente tenho finalmente a humildade tranquilizadora de saber que nada sei do que me faz feliz, apenas sei o que me faz sentir bem comigo própria e com os outros, apenas sei como posso fazer os outros sentir-se bem comigo. Apenas sei que heverá sempre gente com quem não me sentirei confortável e gente que não se sentirá confortável comigo, por isso ainda bem que a humanidade é tão vasta pois podemos ter a liberdade de escolher e ser escolhidos para partilhar as nossas vidas em cada momento nos vários planos das relações humanas por quem verdadeiramente valoriza a nossa presença e é feliz com ela por quem valorizamos e nos faz sentir feliz pela sua presença, seja numa simples partilha de um percurso para o trabalho e algumas trocas de palavras simpáticas, seja numa relação cordial com vizinhos, seja numa relação familiar íntima, numa relação de profunda amizade ou numa relação laboral onde tantas horas do nosso quotidiano se passam.
Poderia dizer-se que cheguei a esta etapa porque atingi os objetivos e metas a que me propus na vida: a minha formação académica e profissional, ter uma profissão que me permite viver com dignidade, ter uma família e ter um círculo de amigos. No entanto nada disso deixou de permitir que se instalasse em mim uma profunda e dolorosa solidão, vazio, frustração e falta de sentido de vida, momentos que tive que ultrapassar e em que nenhum dos objetivos nem metas alcançadas ajudou, mas apenas a certeza do amor da minha família nuclear, meu pai, minha irmã e meus filhos, a certeza de algumas amizades muito sólidas e calorosas, a certeza de uma espiritualidade contra quem pela primeira vez na vida  me revoltei e me senti injustiçada, tudo pilares fundamentais que se mantém e que são a âncora que me permite, ultrapassada a vasta tempestade que sacudiu a minha vida nos últimos 5 anos, dizer hoje com serenidade que nada espero a não ser em cada dia ser eu própria, o melhor que consigo ser, para mim e para todos com quem me cruzo, sempre procurando com a oração, o yoga, a meditação, a contemplação do que de belo tem a vida e tanta variedade na natureza e na cultura, chegar mais dentro de mim própria e dos outros, chegar mais perto de cada interior que é a riqueza de cada um.
Boa viagem interior caro (a) visitante virtual, o percurso que decidir fazer, por curto que seja vai valer a pena, sobretudo se persistir, um bocadinho de cada vez, e recorrendo a leituras inspiradoras e fortalecedoras da esperança, como esta que hoje recomendo.

C.C. 

03/11/2017

SOPROS DE ESPERANÇA, BLOWS OF HOPE, SOUFFLES D'ÉSPOIR: Sabe ser assertivo? Quer ser assertivo? Ser assert...

SOPROS DE ESPERANÇA, BLOWS OF HOPE, SOUFFLES D'ÉSPOIR: Sabe ser assertivo? Quer ser assertivo? Ser assert...: Caro(a) visitante virtual, Escrevo hoje o meu post sobre um tema que achava que conhecia, mas que na realidade do qual pouco sabia ...

Sabe ser assertivo? Quer ser assertivo? Ser assertivo é uma fonte de esperança... Aposte em si



Caro(a) visitante virtual,

Escrevo hoje o meu post sobre um tema que achava que conhecia, mas que na realidade do qual pouco sabia e que gostei muito de descobrir em pormenor.
A autora deste livro, Olga Castanyer, apresenta a assertividade como forma de expressão de uma auto-estima saudável. Esta foi mais uma das leituras inspiradoras que tenho vindo a fazer na mais recente fase da minha vida em que tive que encontrar respostas para os desafios que em várias frentes a vida me foi colocando nos primeiros anos depois de cinco décadas a orientar-me por padrões de vida que tinha quase como irrefutáveis e que, supostamente, me trariam como resultado uma vida de harmonia social, familiar, estabilidade,  equilíbrio e realização pessoal. 
Na realidade não me posso queixar de durante mais de cinquenta anos me ter norteado por valores sólidos familiares, sociais e religiosos. Valores sobre os quais me auto-interroguei, como é natural, na minha adolescência e que saudavelmente me questionei por me terem sido transmitidos na minha educação familiar, tendo eu decidido assumi-los para mim já não apenas por mera transmissão direta, mas por consciente assimilação por me fazerem sentido. E, na realidade, foram muito positivos os resultados que fui obtendo nos meus primeiros cinquenta anos de vida, cujo corolário principal é o núcleo de fortes relações familiares, de sólidas amizades e de respeitabilidade social e profissional.
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Então porquê o sentido de vazio que tantes vezes sentia?









O que havia nesse vazio para o qual quantas mais eram as perguntas mais distante se encontrava a serenidade interior?


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Era como se quanto mais aprofundasse as minhas interrogações, mais me afundava numa reflexão circular que partia de mim para a mim voltar, sem no entanto encontrar qualquer resposta.
E por vezes as respostas mais simples são as que mais temos dificuldade em aceitar porque teimamos insistentemente em que tudo é complexo, o universo é complexo, o ser humano é complexo, as relações humanas são complexas.

No entanto, fugir de questionarmos a complexidade que nada mais é que a expressão da enorme riqueza que é o ser humano, é também evadirmo-nos da nossa própria essência, alhearmo-nos de nós próprios, ficarmos distantes do nosso próprio ser. E, qualquer um sabe que quanto mais longe estamos de nós e do que somos mais afastado e longínquo fica o nosso bem-estar e realização pessoal. Por isso aceitei ser corajosa, e enfrentar os meus desafios e dispus-me a tudo, menos a ficar longe dos meus próprios valores e da minha própria essência. E, assim, a pouco e pouco, em passos lentos mas consistentes reflecti muito, escutei muito, li muito e dediquei-me a aprofundar o que sabia de mim e o que ainda precisava de saber para me descobrir. Encetei uma viagem interior a solo, como nunca antes tinha feito. Com a segurança de ter a família nuclear e os amigos na retaguarda e dos lados a acompanhar-me no percurso que sabiam estar a fazer do meu auto-conhecimento.

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E foi nesse percurso que continua e onde me sinto confortável em continuar a caminhar que encontrei a Assertividade, que comecei a construir uma assertividade que assumi como minha referência. A assertividade de dizer Não àquilo e àquele(s) ou aquela(s) que me fizerem sentir desconfortável por serem desrespeitosos, prepotentes e desconsiderarem ou humilharem quem os rodeia, independentmente dos motivos porque o fazem.
A minha atitude anterior nestas circunstãncias da minha vida era procurar sempre ser compreensiva, entender o lado do outro e perdoar sempre. Hoje chego à conclusão que essa atitude era uma errada e não saudável interpretação dos valores religiosos da aceitação do outro na sua diferença e nas suas condicionantes próprias.
A minha atitude assertiva diz-me hoje com clareza que nenhuma atitude humana seja ela qual for e venha ela de quem vier, é aceitável se menoriza, inferioriza ou humilha outro ser humano. Não há tolerância nem compreensão para gestos que são em si nocivos para o outro.
Perdão é uma palavra que corresponde a um julgamento que não me compete fazer aos comportamentos daqueles com quem me cruzo no dia a dia. São eles próprios que devem julgar os comportamentos de que são autores, como eu julgo os meus próprios comportamentos e os avalio á luz dos meus valores e dos meus padrões sociais, morais, éticos e religiosos. cada um julgará ou não os seus como entender. Mas, em todo o caso, só vale a pena qualquer julgamento que contribua para um ser humano cada vez melhor e mais em harmonia consigo próprio e com os outros, qualquer outro tipo de julgamento ou é tóxico ou inútil.
Esquecer mágoas e desilusões é algo quase impossível de se pedir pois nós somos a nossa própria história e o nosso tempo. E, o tempo, o tempo de cada um, se encarrega de ir limpando o que não vale a pena que fique a amargurar-nos inutilmente o coração depois de termos aprendido o que temos a aprender com cada outra vida humana com quem nos cruzamos na aventura que percorremos em cada dia, desde o nosso nascimento.
No entanto, nas minhas mãos está ser assertivo. Está no momento próprio dizer "Não" ao que sabemos que não nos faz bem. E sabemos sempre. E sabemos com muita clareza. Mas a vontade de nada fazer com medo do que perdemos e de quem perdemos dá colorações ilusórias ao que já vimos que é escuridão no nosso percurso. Isso, e a ilusão de estarmos enganados, de não estarmos a ver bem, ou ainda a ilusão que irá mudar algo e por isso nada precisamos de fazer. Mas nada muda, nada muda enquanto não mudarmos nós... se não for de situação, pelo menos de atitude. E se de atitude não bastar, pois então, de situação. Os medos enfrentam-se e nunca são tão grandes nem tão arriscados comos nos parecem.
É sempre possível vencer obstáculos, se necessário com ajuda. Procurando sensatamente uma ajuda madura e esclarecida que nos ajude a avaliar riscos e potencialidades. O passo vale a pena quando o que vamos deixar para traz é o desconforto de não sermos reconhecidos e valorizados pelo que somos.
Porque todo o ser humano merece ser aceite pelo que é.
Porque todo o ser humano é uma pérola a descobrir.
E, sobretudo, depois de ser assertivo, não guardar rancor nem ressentimento, pois esses sentimentos envenenam os próprios seres humanos que os alimentam. Importa ser assertivo e seguir em frente, dando o privilégio da nossa companhia àqueles que entendemos que a valorizam e merecem pela sua autenticidade, genuinidade, lealdade, sensibilidade e disponibilidade para genuinamente celebrarem connosco os sucessos e elogios que recebemos ou nos reconfortarem nos nossos momentos menos risonhos da vida.
E é tão bom sabermos quem somos, o que queremos da vida e quem queremos na nossa vida nos seus vários planos... ou simplesmente que há planos onde podemos até deixar assim suspensos do que somos e sonhamos, porque a vida também é feita de sonhos e estes são saudáveis, as ilusões, não.
Boas leituras e muita esperança, caro(a) visitante virtual, que eu continuo com essa palavra forte no meu percurso mesmo quando a luz fica mais ténue.

C.C.

25/09/2017

Pregões de Esperança nas palavras e nos gestos



Caro(a) visitante virtual,

Tendo D. Manuel Martins, partido do nosso universo físico no passado domingo, depois de 90 anos de vida dedicados à Esperança e a suscitar esperança nos mais mais dela carenciados no plano espiritual, social e económico, não poderia deixar de lhe dedicar um post numa profunda gratidão por todo o conforto e alento, força e esperança que trouxe ao nosso país e, de forma muito em particular, às partes do nosso país mais carenciadas.
Nunca tive o privilégio de conhecer, nem sequer de ver alguma vez na minha vida D. Manuel Martins, mas este homem marcou profundamente a minha juventude com o contacto que tive com as suas palavras de esperança e de luta pelos mais necessitados, de luta pela liberdade e pela dignidade do ser humanos e das suas comunidades, pela igualdade de direitos políticos, económicos, sociais e culturais e pela promoção de valores tão nobres não apenas nas circunstâncias favoráveis, mas em circunstâncias em que não era politicamente correto defender estes valores, bem pelo contrário, em circunstâncias adversas. E fê-lo sempre com nobreza de caráter, verticalidade, frontalidade, eloquência, persistência, firmeza e muita coragem, tendo mesmo, por isso, não apenas sido apelidado de "Bispo Vermelho", numa expressão acusatória de insinuação a valores de esquerda, como se estes fossem de algum modo incompatíveis com os valores do Cristianismo que professou toda a sua vida e com que me identifico, uns e outros.
Foi justamente graças a pessoas de mente esclarecida, aberta, arejada e tolerante que continuei no meu percurso de fé, apesar de todas as poeiras e até às vezes lamas que têm coberto a imagem da Igreja Católica desde o seu surgimento até aos dias de hoje. É precisamente graças a vozes de esperança, coragem, liberdade, igualdade, tolerância e solidariedade universais que tantos por todo o mundo, como eu, continuam a acreditar que ainda hoje há quem genuinamente siga Jesus Cristo nas suas palavras e nos seus gestos corajosos pela dignidade do ser humano e da sociedade.
Esquecem-se ou querem esquecer-se aqueles que tanto o criticaram e até ostracizaram (porventura alguns dos que agora, após a sua morte o elogiarão. A vida tem destas ironias.), muitos deles dentro da Igreja, que o próprio Jesus Cristo era ele próprio um revolucionário, como, aliás, era próprio dos profetas. Mas, no caso concreto de Jesus Cristo, para além de revolucionário nas palavras este homem foi em tudo revolucionário nas palavras contra os poderosos e dominadores do seu tempo, revolucionário na aproximação e ternura para com os mais pobres, os mais doentes e os marginalizados; corajoso na determinação com que enfrentou reis, juízes, doutores da lei e todos quantos entendia que violavam os direitos humanos; e persistente na sua luta pela igualdade e dignidade do ser humano até ao limite de, conscientemente, colocar em risco a sua própria vida.


D. Manuel Martins, foi sem dúvida um bispo à altura deste património espiritual que eleva a dignidade do ser humano, contra ventos e marés, se estas se opuserem à liberdade e à dignidade humanas. É numa religião assim que acredito, é em homens com esta fibra, integridade, verticalidade, transparência, coerência e arejamento de ideias e valores que deposito a minha confiança e a minha esperança na construção de sociedades mais justas, mais equitativas e mais propiciadoras do pleno desenvolvimento de todos. Homens e mulheres sem poeira na alma, nas ideias ou no coração. Gente arrojada, sem se prender a deslumbramentos mundanos de poder; gente despojada e sem arrogâncias; gente que está pronta a chegar-se à frente em defesa dos indefesos mesmo que a maré esteja em recuo.
Diz quem o conheceu que, para além de um homem frontal e plural era ainda um homem divertido. Sem dúvida foi um homem que abanou instituições, mesmo a sua própria instituição de que foi ordenado padre em 1951 e bispo em 1975. Período quente em Portugal social e politicamente. Conheceu bem o seu povo nacional e as suas dores da ditadura e da afirmação de uma democracia. Em Setúbal, de que foi o primeiro bispo, durante os 23 anos do seu episcopado transformou as vidas de muita gente, tocou muitos corações e contagiou com a sua fé, as suas palavras e os seus atos não apenas a área do seu episcopado, mas todo o país e até o mundo. 
Foi um homem que teve uma participação cívica ativa e frontal nas sedes próprias no plano nacional e internacional. Foi um homem que ouviu e deu voz a muitas organizações não governamentais de promoção dos direitos humanos e da proteção do ambiente e do planeta, algumas das quais foi membro-fundador. Foi um homem que encorajou os portugueses para uma cidadania consciente e ativa, como um direito e um dever que lhes assiste.
Foi das primeiras vozes públicas a erguer-se, nomeadamente junto das Nações Unidas pela independência de Timor-Leste. 
Foi sempre uma voz bem audível contra toda a violência, nomeadamente política, social e económica de que tivesse público conhecimento.
E, apesar de conhecer profundamente o desespero do ser humano nas situações sociais e humanas mais adversas, foi também sempre um homem de alento e de esperança, reconfortador e retemperador de estados de alma e não apenas do corpo, ambos igualmente necessários ao bem-estar integral do ser humano.

As suas homilias, várias delas reunidas na obra "Cantar a vida!" refletem o seu "modo de estar", que também publicou. Um modo de estar na Fé, na Igreja, na Sociedade, no País e no Mundo.
Este homem, nascido em 1927 em Matosinhos, ficará para sempre na minha memória e na memória de milhões de Portugueses e de cidadãos do mundo como um homem de esperança e será sempre com um sorriso de gratidão que o lembrarei, reconhecida por me ter tocado desde a minha juventude com a sabedoria, força e esperança das suas palavras.
Para homens assim e mulheres assim... Com homens e mulheres assim... não há fronteiras, não há limites, há valores intemporais pelos quais vale a pena lutar para nos construirmos a nós próprios interiormente e nos nossos gestos de aproximação ao outro, mesmo àquele que é diferente de mim e, precisamente por o ser, eu não conheço tão bem e posso até recear indevidamente. 
São pessoas assim que constroem a Fé universal em Deus, num Poder Superior, sem condições de aceitação do ser humano, sempre com limitações, mas também com um apelo interior à perfeição, à serenidade, à beleza, à infinitude e à eternidade.
D. Manuel Martins será sempre um homem intemporal que deixou esperança semeada por onde passou ou onde a sua voz chegou e continua a chegar com todo o precioso legado de mensagens que nos deixou.

Uma boa viagem pelo conhecimento desta fonte de esperança, caro(a) visitante virtual.
Um abraço virtual

C.C.

30/08/2017

O sentido da vida é muito simples, é o Amor. A Esperança encontra-se facilmente, no Amor.


 
(Foto de Bruno Lai no surf, Cabo Verde, Agosto de 2017)
 
Caro(a) visitante virtual,
 
O meu post de hoje é inteiramente dedicado a um leitor deste blogue "Sopros de Esperança" desde o seu primeiro post quando o criei em 2011, mas sobretudo a um grande e muito querido amigo Bruno Lee Lai. É a ele que dedico este post sobre o sentido da vida e a fonte da esperança, ambos com a mesma resposta: o Amor.
 
Nesta foto recente do Bruno ele estava num contexto paradisíaco em Cabo Verde, com a mulher e a filha, os grandes amores da vida dele, para além do seu irmão-gémeo e família que adora, a fazer surf, a sua grande paixão, quando teve uma paragem cardiorrespiratória que o deixou em coma profundo. Foi evacuado para Tenerife onde teve que aguardar condição de saúde que na sua fronteira entre a vida e a morte permitisse que viesse num avião-ambulância para Portugal, ainda inconsciente, mas já sem risco cardíaco na deslocação. Foi a força do Amor que deu à Carla toda a coragem, determinação e esperança para ajudar como dito nas palavras dela no facebook  "o grande amor da minha vida" para o manter agarrado à vida. Agora o Bruno vai estando intermitentemente entre consciência e ausência, cada vez mais consciente e reativo a todos os muitos que gostam muito dele e, visitando-o, lhe transmitem a força das suas emoções e energias positivas, bem como fé quando a têm.
 
Muito tenho pensado sobre o sentido da vida por circunstâncias recentes da minha vida que, não sendo as que desejaria nem fáceis, nada têm de comparável a esta situação extrema que o meu querido amigo Bruno e sua família estão a viver. E, nas muitas reflexões que fiz sobre o assunto, apoiada em muitas leituras estimulantes de que falarei mais oportunamente, baseada ainda numas extraordinárias férias de encontro comigo própria e com os outros, como não tinha há muito tempo e que merecem também que lhes dedique um post bem como à minha amiga que mas proporcionou, cheguei à resposta simples que também esta situação-limite do Bruno veio confirmar. O sentido da vida é o Amor.
 
 
Li recentemente um livro muito interessante de Jorge Bucay e Sílvia Salinas, "Viver sem ti" que fala de um divórcio, da superação da perda de uma vida de casal e da procura de amor autêntico. Senti-me muito identificada porque também eu vivi por dentro a desilusão e a dolorosa decisão de se pôr termo a um casamento, e projeto de família, precisamente no ano em que completaria 25 anos de casamento e numa fase da vida, depois dos cinquenta anos, em que sentimos tudo menos que a vida está aberta a desenrolar-se em oportunidades de realização pessoal. E aprendi muito com este livro, muito sobre o Amor, sobre mim, sobre os outros e sobre a vida. Concordo inteiramente com a perspetiva dos autores que colocam no centro da obra o Amor e a existência ou ausência dele bem como a enorme pertinência do Amor nas nossas vidas. A começar pelo amor por nós próprios, sem o qual nunca conseguiremos ser bem sucedidos em amar seja quem for nem construir relações saudáveis, as únicas que nos proporcionam bem-estar e felicidade e aos outros.
 
É justamente o Amor o sentido da vida e também a fonte da esperança. Não apenas para mim, mas, na minha modesta perspetiva, para qualquer ser humano. Foi sempre o Amor ao longo da minha vida que me ancorou nos momentos difíceis que todos temos, uns mais violentos que outros, mas também que deu sentido às minhas alegrias, pequenas ou grandes.
 
Para começar, claramente o Amor dos meus pais e da minha irmã, e esse Amor destas três pessoas fundamentais na minha vida prevalece constante e forte em todos os momentos da minha vida, mesmo por parte da minha mãe há mais de duas décadas presente apenas nas minhas memórias, nas da família e espiritualmente. Depois o Amor de outras pessoas que foram surgindo na minha vida, em relações românticas, conjugal ou de amizade. Os meus dois filhos nasceram, e desde o nascimento de cada um, juntaram-se ao pilar inabalável da minha família nuclear que será sempre o meu porto de abrigo e o meu porto de alegria e de esperança. O meu Amor por essas pessoas é incondicional e sei que o Amor delas por mim é também incondicional, e este é o sentido da vida e a esperança que tenho. Qualquer que seja o ser humano, se for amado incondicionalmente, nem que seja só por outro ser humano, compreenderá, se o quiser ver, que é esse o sentido da sua vida, é essa a fonte da sua esperança. Eu acredito ainda no sentido da vida e na esperança que resultam do Amor de um Poder Superior a que aprendi a chamar Deus, mas ainda que não acreditasse e não tivesse Fé, é tão grande a força do Amor de quem me ama e que eu amo que só por eles tudo vale a pena.
 
Fazem ainda parte desta dimensão de Amor que dá sentido à minha vida e, creio que à vida de quem quiser estar aberto para assim sentir, as pessoas com quem já me cruzei e com quem me vou cruzando ou  me virei a cruzar na minha vida. Acredito firmemente que nenhuma das pessoas com quem nos cruzamos nas nossas vidas, seja em que plano for (familiar, afetivo, profissional, social, cultural, desportivo ou lúdico), surge por acaso nas nossas vidas, com cada um e em cada momento temos algo que aprender. E, se a mesma pessoa surge mais do que uma vez na nossa vida em momentos diferentes, acredito que é porque não tínhamos ainda percebido, ou não quisemos perceber, o que tínhamos a aprender com ela e ela voltará a aparecer nas nossas vidas em diferentes momentos até que compreendamos o que temos a aprender com ela ou permanecerá na nossa vida se for alguém com quem vamos dia a dia tendo algo a aprender. Não falo em aprendizagens sociais ou culturais, falo em aprendizagens do ser, aprendizagem de sermos mais nós próprios, mais autênticos, mais aceites por nós próprios, mais conscientes dos nossos medos e limitações e mais decididos a superá-los progressivamente ou a aceitá-los se são limitações que não conseguimos vencer. Assim, consequentemente, seremos mais felizes e faremos os outros mais felizes. Nenhum ser humano é feliz sozinho. O ser humano é um ser social por natureza e o universo está cheio de seres humanos maravilhosos com quem nos relacionarmos, de forma saudável e agradável, estimulando o crescimento recíproco uns dos outros, apoiando-nos nas quedas e frustrações e alegrando-se connosco nas alegrias e sucessos, ajudando-nos a compreender os nossos medos e ansiedades e a superá-los. A história nacional e universal está cheia de homens e mulheres carismáticos que viveram as suas vidas inspirando-nos no seu amor solidário aos outros, mesmo que aos outros seus desconhecidos, desde figuras religiosas e espirituais como Buda, Jesus Cristo, Maomé, S. Francisco, Madre Teresa de Calcutá, Papa Francisco, Dalai Lama (entre muitos outros líderes religiosos de mensagens de apelo à paz, ao respeito dos direitos humanos e a uma irmandade universal) a figuras políticas como Gandhi e Martin Luther King, a figuras da vida cívica, cultural e social de todos os tempos, épocas e lugares dos cinco continentes.
 
Claro que nesta dimensão de Amor global como o concebo e no qual considero que reside o sentido da vida e a esperança do ser humano, seremos tanto mais felizes quanto mais amarmos e mais nos sentirmos amados. Claro também, que mais magoaremos e mais seremos magoados por quem amamos, pois uma desilusão que provoquemos ou que sintamos causa sofrimento muito superior se vier de quem mais amamos porque essa pessoa é muito mais importante para nós e perdê-la ou o medo de a perder é superior. Mas magoar ou desiludir alguém é uma dimensão inevitável decorrente das humanas limitações que todos temos, baseadas sobretudo nas nossas experiências passadas da infância e não só, nos nossos medos enraizados, nas nossas ansiedades quando desmedidas e nas nossas expetativas infundadas.

Acredito firmemente que quanto mais formos capazes de trabalhar essas limitações, de nos consciencializarmos delas e de trabalhar para mudar o que entendermos que precisamos de mudar em nós mesmos e nos aceitarmos com o que não conseguimos mudar, pelo menos no momento em que estamos, mais livres nos sentimos, mais autênticos nos sentimos, mais disponíveis ficamos para nos aceitar e para aceitar os outros como são, mais disponíveis estamos para amar e para ser amados e, consequentemente, mais felizes seremos e mais faremos felizes os que nos  riodeiam e com quem interagimos em todos os planos das nossas vidas a título permanente ou meramente ocasional.

Com o trabalho de reflexão, leitura e meditação que tenho feito no último ano da minha vida sinto-me feliz, realizada e grata com o que sou, com o Amor que dou e que recebo em cada dia. Já não sinto vazios existenciais que me angustiavam e deprimiam, já não sinto que falta algo na minha vida que nem sabia o que era. Agora sei. Falava eu própria encontra-me, aceitar-me e amar-me porque Amar um poder superior e amar os outros eu aprendi muito cedo com os meus pais e por isso estou-lhes infinitamente grata, faltava-me a outra parte. Mas, tenho consciência que esta aprendizagem não acaba aqui. Considero que a aprendizagem do amor é uma aprendizagem constante e diária ao longo das nossas vidas e que, quanto mais estivermos abertos a ela mais realizados e felizes nos sentiremos e mais amor, alegria e esperança deixaremos como rasto no nosso caminho da vida.
 
(Foto de Bruno Lai, Cabo Verde, Agosto de 2017)
 
E, é neste meu percurso de vida, aprendendo em cada dia a caminhar ao lado dos outros e não à frente nem atrás, que recebi os fabulosos abraços do meu querido amigo Bruno. Dados numa cama de hospital, entre estados de inconsciência e de consciência, como o vi no domingo passado. Sem me conhecer a princípio, parecendo reconhecer o meu nome quando o proferi e, depois, numa explosão de abraços e risos sem som mas os olhos, os lábios e a cara toda iluminada quando, algum tempo depois de ouvir a minha voz e a sonoridade e cadência com que me identificou, me reconheceu. Foi enorme a alegria de ambos naquele inesperado encontro. Tocámo-nos muito em abraços, afagos de mãos e, da minha parte, carícias na face e nos cabelos dele, nunca o tínhamos feito porque nunca tinha sido necessário para mutuamente comunicarmos a forte amizade que nos unia. Não tenho palavras para descrever a emoção dessa comunicação intensa de afeto genuíno, puro e forte que muito nos une. Eu sabia bem o quanto ele era uma pessoa de quem eu gostava muito, sabia bem que era um amigo muito querido para mim e ele também sabia porque ao longo dos nossos anos de amizade essa amizade sempre foi muito saudável nos afetos, sem competições, orgulhos, invejas, ambições ou rivalidades a envenena-la por mais complexos e até agressivos que tenham sido os percursos profissionais que partilhámos como colegas. Nem da parte do Bruno nem da minha houve momento algum, fosse de tensão ou de descontração, de satisfação ou de frustração, em que deixássemos de nos respeitar em que deixássemos de nos valorizar mutuamente em que transferíssemos para o outro ciúmes, raivas ou desconfianças.
 
Considero que quando as relações são saudáveis as pessoas desenvolvem entre si afetos profundos em que cada um se sente confortável e seguro para ir partilhando com o outro aquilo que é. Assim, os abraços do Bruno para mim têm um valor imenso, intenso e profundo porque me foram dados por ele apenas por ele ser quem é e eu ser quem sou e ambos sermos verdadeiramente amigos. Também estou, como desde cedo  estive, convicta de que estas nossas expressões de afeto só tiveram o valor que têm porque ao longo da nossa amizade ambos transmitimos um ao outro, e ambos entendemos bem o quanto somos importantes e valorizados pelo outro. Não precisei deste momento nem o Bruno para saber o valor dele, a importância dele para mim e o quanto gosto dele. Nem ele precisou disso em relação a mim. E, justamente porque essa era uma comunicação já existente e bem compreendida por ambas as partes esteve presente nesses abraços. Cada um daqueles abraços que trocámos transportava a história dos nossos afetos e ambos nos reconhecemos nessa história e em conjunto, naquele momento tão especial para ambos, nos alegrámos com ela, uma vez mais, como em tantos dos nossos almoços e cafés partilhados, entre risos e por vezes lágrimas, entre êxitos e por vezes fracassos, entre alegria e por vezes tristeza, mas sempre, sempre sem exceção em nenhum momento, mérito dos dois, porque numa relação o mérito é igualmente partilhado, sempre com autenticidade, grande admiração, grande reconhecimento e, por tudo isso, grande afeto pelo outro e interesse na sua felicidade e alegria em todos os planos da vida.

Ao longo da minha amizade  com o Bruno ele tem-me transmitido os seus afetos pelas pessoas que lhe são mais queridas, a mulher, a filha, os pais, os irmãos e a paixão do surf e esses afetos dele, como os meus que partilhei com ele, passaram a fazer com que também essas pessoas passassem a fazer parte do património afetivo de ambos e, por isso, mesmo antes de os conhecer, eles já eram meus conhecidos e já me diziam muito.
 
O Bruno, como referi no início deste post, é leitor deste blogue "Sopros de Esperança" desde o seu primeiro post quando foi criado em 2011. E um leitor regular que comenta sempre cada um dos meus posts em mensagem privada para mim de uma forma giríssima, destacando sempre em cada post a frase que lhe diz mais. Muitas vezes achei que essa frase era uma frase banal que nada tinha de especial, simplesmente tinha-me "saído" enquanto escrevia. Era ele que a tornava especial com o valor que tinha decidido conferir-lhe.
 
Este blogue tem já mais de 56.000 visitas das várias partes do mundo e eu, neste momento, e em sinal da minha profunda amizade e gratidão ao meu muito querido amigo Bruno, dedico-lhe essas mais de 56.000 visitas vindas de visitantes virtuais portugueses e estrangeiros porque sem o seu encorajamento contínuo e o de outros amigos e visitantes virtuais eu não teria persistido neste projeto de escrever palavras de esperança que pudessem chegar a cada um de vós e também a mim própria.
 
O Bruno não lerá hoje este post diretamente no blogue, mas irei ler-lho eu, seja qual o nível de consciência em que o for encontrar hoje e com a força de tanto Amor da mulher, da filha, do irmão-gémeo, dos irmãos, cunhados, sobrinhos, amigos do surf, amigos e colegas de trabalho e, também e sobretudo, acredito, o Amor de Deus, o Bruno continuará a estar connosco e a recuperar tudo o que é de expressão do maravilhoso ser humano que é e sempre será e com quem tive o imenso privilégio de um dia, há vários anos, me cruzar na vida.
 
Caro visitante virtual, espero que este post lhe tenha dito algo sobre o sentido da vida, a esperança e as relações saudáveis que têm sempre por base o Amor no sentido global do termo. Eu aprendi que já só quero relações dessas na minha vida, seja em que plano for. E aprendi também que todas as relações são a dois porque mesmo entre família, amigas ou colegas a relação que se estabelece entre cada um de nós e o outro é única e a responsabilidade de que seja uma relação saudável e feliz é claro como água, é de metade para cada um, nem mais, nem menos (obviamente excluindo as situações de relações de opressão de um ser humano sobre o outro, violadoras dos direitos humanos em que um é vítima do outro e deve procurar ajuda das entidades competentes para ser ajudado a sair dessa relação). Eu assumo a minha responsabilidade pelos 50% de todas as relações que tive na minha vida e quero aprender em cada dia a continuar a estar consciente dessa responsabilidade, assumi-la e usá-la da forma que me fizer mais feliz e àqueles com quem a partilho, se quiserem, claro está.

Porque somos livres e adultos e devemos querer a partilhar das nossas vidas simplesmente quem nos faz sentir estimados e valorizados, quem aceita o nosso afeto como algo autêntico, único e precioso, porque o é verdadeiramente. É assim que reconheço quem quero em cada dia que partilhe a minha vida, esteja em minha casa, na vizinhança, no trabalho, no meu país ou no estrangeiro, perto ou longe, porque os afetos que são fortes permanecerão fortes se cultivados e sempre atuais, mesmo que a presença física nem sempre seja possível.
 
Boas viagens interiores e relacionais, caro visitante virtual, e dê aquele abraço com alma a quem entender que o merece porque reconhece o seu afeto e o valoriza e nutre por si afeto e lho comunica numa linguagem que ambos possam entender. Verá que nem que seja só uma pessoa a estar consigo nessa relação plena, a sua vida estará preenchida, com genuinidade, plenitude e esperança.
 
Até ao meu próximo post.
 
C.C.
 
 

03/08/2017

O poder das palavras e da ação como fonte de nova vida e de esperança


Caro(a) visitante virtual,

Escrevo-vos hoje sobre um livro de que terminei hoje a leitura e que considero muito positivo e útil para o meu autoconhecimento e para conduzir a minha vida nos seus vários planos com a dimensão de plenitude que considero que dá sentido à minha existência, na minha perspetiva, à do ser humano como ser vivo por excelência dotado de inteligência, criatividade, sensibilidade e capacidade de produzir valores éticos, religiosos, culturais, sociais e individuais.
Dos muitos livros que tenho lido desta natureza, uma vez que é um tema que me apaixona, o do autoconhecimento e do conhecimento do ser humano na sua individualidade e como ser social, recomendo "O poder da ação" do Professor Paulo Vieira, criados do método CIS (Coaching Integral Sistémico), presidente e chanceler da Florida Christian University nos Estados Unidos. 
Este professor para além de um reputado investigador e académico esteve desempregado, quase na falência, a braços com um divórcio e tudo parecia dar resultados errados na sua vida. Chegou à conclusão que assim era e dedicou-se a fundo a ver o que estava a fazer que conduzia a sua vida para resultados que não queria e o faziam infeliz. 
Muito pesquisou, muita gente ouviu e produziu um método de mudança da sua própria vida que resultou numa alteração profunda dos seus esquemas mentais, emocionais e de ação que lhe permitiram construir a vida com que sonhou nos vários planos. Atualmente continua a investigar, leccionar a fazer coaching, a escrever e realizar palestras sobre o assunto tendo modificado muitas vidas de gente desesperada ou simplesmente acomodada que o tem procurado ou lido.
Muito do que diz me faz sentido, sobretudo as perguntas que ensina a colocar sobre nós próprios nos vários planos da nossa vida. Como ele bem diz, se colocamos as perguntas erradas, não podemos ter as respostas de que precisamos. Então, porque não aprender com um método já investigado e testado com bons resultados? Foi o desafio que aceitei a partir da leitura deste livro. Resultados, como é lógico ainda não puderam aparecer se o acabei de ler só hoje, mas certo é que a leitura me fez muito sentido e me conheci melhor a mim própria, ao que quero e também ao que não quero, ao que estou disposta a dar aos outros (que eu já sabia), mas também o que não estou disposta a aceitar dos outros, sobretudo se for reiterado ( o que eu desconhecia de mim, entre várias outras descobertas interessantes, edificantes e motivadoras).
Sempre soube de mim que muito valorizava e valorizo os afetos dados e recebidos, os grandes e os pequenos afetos, as manifestações de amor, de amizade, de respeito e de consideração. E, descobri que não há nada de errado com isso, bem pelo contrário, é exatamente esse o registo das relações sociais saudáveis, sejam elas românticas, familiares, de amizade ou profissionais. Em qualquer dos planos, pode nem sempre haver aplauso ou nem sempre haver reconhecimento explícito, mas também em qualquer dos planos não deve haver palavras nem atos violentos, agressivos, ultrajantes, humilhantes ou reiteradamente indiferentes. Quando estes últimos sucedem, para além de magoar o outro, colidem com o sentimento de pertença e de conforto interior e social de que todo o ser humano necessita. 
Cada um de nós sabe exatamente quando age assim para com os outros e quando os outros, quem quando se se é reiterado, reagem assim connosco. Em qualquer destes dos processos, num em que somos agentes e no outro em que somos destinatários, o que importa não é nem procurar culpabilizações próprias ou de terceiros nem vitimizações ou auovitimizações. Há simplesmente que agir, como nos diz Paulo Videira neste precioso livro, todos temos o poder da ação, resta-nos decidir se estamos dispostos a empreendê-la. 
Se o seu comportamento, caro leitor virtual é agressivo em geral ou agressivo apenas em alguns planos ou com algumas pessoas será útil que se pergunte porquê e que depois dê os passos necessários. Não tenho dúvida que se tornará numa pessoa melhor, mais bem aceite por si próprio e pelos outros e mais feliz pois a essência do ser humano é gregária e, na minha perspetiva respeitando quem tem perspetivas diferentes, é também um ser por natureza espiritual, podendo ter ou não religião assumida ou mesmo assumindo-se ateu.
Se o seu comportamento, caro leitor virtual é indiferente ou inexpressivo nas suas emoções em geral, apenas em alguns planos ou com algumas pessoas será também útil que se pergunte porquê e que depois dê os passos necessários, também neste caso não tenho dúvida que se tornará numa pessoa melhor, mais bem aceite por si próprio e pelos outros e mais feliz pois a essência do ser humano é também o amor e o afeto e a dimensão emocional do ser humano é poderosa para curar dores, tristezas e tanta coisa pela qual a medicina por mais avançada que esteja ou venha a estar não conseguirá, na minha perspetiva, alcançar pois tem a ver com algo irrepetível e único que é cada um de nós, e aí só o amor chega, a amizade e dedicação genuínas chegam.
Se o seu comportamento, caro leitor virtual é passivo em geral, apenas em alguns planos ou com algumas pessoas,  se é (na generalidade ou nalguns planos ou por algumas pessoas) agredido física ou verbalmente, domesticamente vitimizado, sexualmente abusado, desprezado, humilhado, reiteradamente rebaixado ou desvalorizado ou mesmo se é pura e simplesmente sistematicamente ignorado, também nestes casos não tenho dúvida que será muito útil que se pergunte porquê e que depois dê os passos necessários. Nestes casos, creio que será muito útil recorrer a ajuda para o (a) ajudar a libertar-se destas situações (Basta uma delas) indignificantes, martirizadoras e destruidoras. Acredite, caro (a) visitante virtual, por mais que diga o contrário a si próprio (própria) ninguém merece ser tratado desse modo. Todo o ser humano merece, independentemente da sua idade, género, raça, etnia, nacionalidade, religião, cultura ou condição económica ou social ser tratado com respeito, dignidade e apreço. Sim, apreço. Sejamos quem formos, todos temos algo de bom e algo de mau. Cabe a cada um de nós o seu processo de se automelhorar e de se libertar de condições indignificantes. A internet está felizmente hoje muito disponível com linhas de email e telefónicas para apoio a todo o tipo de vítimas. Se não souber procurar basta ligar para autoridades policiais ou para a APAV (Associação de Apoio à Vítima), encontrará facilmente os contactos na internet, eu não os coloco aqui porque dependem do país ou região em que está a ler este post e o anonimato e confidencialidade do seu contacto é totalmente garantido. Do outro lodo haverá uma voz verdadeiramente disponível para ajudar e encaminhar para outras ajudas mais especializadas, se for o caso. Mesmo sem custos económicos para quem não pode pagar. São atos nobres de voluntariado que muitas vidas têm ajudado. Nada há de vergonhoso ou humilhante em pedir ajuda. Fará mal a si próprio e muito provavelmente a filhos ou dependentes seus se permanecer sozinho em situações humilhantes e que ferem a nossa autoestima constantemente ou mesmo que violentam e abusam da pessoa humana, seja ela você ou não. Se hoje é você, como sucede com frequência isso pode também já suceder ou vir a suceder aos seus filhos, pelo mesmo agressor ou outro qualquer porque estão a assimilar um modelo comportamental de agressor-vítima. Seja corajoso (corajosa) se precisar de pedir ajuda, faça-o, com a ação, um simples passo como este pode mudar a sua vida e quem sabe, também a dos seus filhos? Basta estender a mão para um telefone escrever um email ou falar com alguém da sua confiança que apoie neste pedido de ajuda.
Em qualquer dos casos, caro(a) visitante virtual, como nos diz o autor deste livro "Faça a sua vida ideal sair do papel". A mim deu-me esperança esta revigorante forma de ver a vida. Gosto de ser atora e encenadora da minha própria vida e gosto de saber como melhor viver e aprender com os outros atores que lá coloco bem como com aqueles que os meus percursos de vida vão colocando. Todos fazem sentido, todos me enriquecem porque com eles tenho sempre algo a aprender sobre eles, sobre o ser humano, sobre a vida, e, sobretudo, sobre mim própria.

Um abraço virtual,

C.C.